Índia

Primeiro, foi a China. Agora é a emergência da Índia no mercado internacional que impõe novos desafios para as economias da América Latina. Em pelo menos duas áreas -em serviços de informática e na indústria- o gigante asiático é mais competitivo que os latino-americanos. No primeiro caso, a Índia já figura entre os líderes mundiais; no segundo, começa a mostrar seus tentáculos, movida por um enorme potencial e por uma necessidade política de se transformar num dos principais exportadores de bens manufaturados do planeta.

Não há opção para a Índia, a não ser investir fortemente no seu desenvolvimento industrial. Seu bem-sucedido setor de serviços não tem como fornecer empregos para mais de meio bilhão de pessoas que, hoje, ainda trabalham na agricultura de baixa produtividade. Para desenvolver o potencial industrial da Índia, as autoridades terão que investir pesadamente em infraestrutura e capital humano e numa melhor legislação trabalhista. Os sinais de que isso será feito já foram dados e o resultado da última eleição mostra que o momento político é favorável a mudanças.

Assim como ocorreu com a China, o desafio imposto pela Índia mostra que o caminho para o desenvolvimento industrial se tornou congestionado e particularmente perigoso para aqueles países que não dispõem de uma oferta abundante de mão de obra qualificada. Uma vez mais, a emergência de uma nova potência chama a atenção da América Latina para deficiências históricas em áreas como educação, acesso a crédito, ciência e tecnologia e infraestrutura.

Neste livro, organizado pelo economista Mauricio Mesquita Moreira, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a emergência da Índia e os desafios e oportunidades que ela traz para a América Latina são discutidos em profundidade. Trata-se de um tema praticamente novo no debate sobre desenvolvimento na região, ainda às voltas com o assunto da "invasão" chinesa e de suas consequências sobre as economias locais, particularmente sobre as industrializadas como a brasileira. Fala-se pouco ainda da Índia e este livro vem cumprir uma lacuna importante na instrução do debate.

Os autores observam que, dada a realidade do mundo atual, na corrida pelo desenvolvimento, os governos não devem descartar completamente a possibilidade de certa intervenção estatal na economia , mas advertem que será mais inteligente, especialmente na América Latina, em função da escassez de recursos e das más experiências do passado, concentrar esforços em atividades "básicas" e de retorno garantido, como construir e administrar de maneira eficiente a infraestrutura e investir em educação. São estas ferramentas que produzirão os recursos necessários ao desenvolvimento e ao crescimento. O recado está dado.