As abordagens da mudança linguística no curso do tempo são variadas, e a gramaticalização constitui um tipo especial de mudança que revela como unidades ou construções de base lexical, em certos contextos linguísticos, passam a servir a funções gramaticais e, se já gramaticalizadas, podem vir a desenvolver funções ainda mais gramaticais. Esse tipo de mudança linguística requer uma concepção não estática da gramática das línguas humanas, o que, em outras palavras, significa assumir que o sistema linguístico está em constante renovação e, desse modo, não há, a rigor, gramática como produto acabado, mas sim, como produto de constante gramaticalização.
Embora o ressurgimento do interesse pela gramaticalização tenha se firmado no cenário mundial no início da década de 1980, no Brasil, a temática só tomou fôlego quase dez anos mais tarde. Ao longo desses quase trinta anos, ressentimos, na literatura linguística brasileira, a falta de uma obra que dispensasse um tratamento didático aos estudos da gramaticalização. Mostrar como esse processo especial de mudança se implementa em qualquer que seja a língua é o que buscamos ao longo dos dois primeiros capítulos do livro, onde o leitor encontrará os subsídios teóricos necessários para, no segundo capítulo, tomar contato com fenômenos de gramaticalização na história do português. Externando nossa preocupação com o público-alvo a que a obra se destina, no último capítulo, apresentamos um tratamento pedagógico do tema que visa a sua aplicação no âmbito universitário, como suporte para a formação do acadêmico-pesquisador da área de letras, e a sua aplicação na prática de ensino de língua materna, uma contribuição para o desenvolvimento da competência comunicativa do aluno do ensino fundamental e médio.