Jaraguá

Que livro é esse?

Este é um livro de ficção, mas nem tanto. Romance histórico? Sim, mas com uma versão fantástica da história. Realista? Também, porque baseado em fatos reais. Mas saiba-se: Jaraguá, o protagonista se transforma em gavião–de–penacho, viaja a bordo do pavão misterioso, usa uma canoa voadora e fica invisível na hora do perigo. É regionalista? Yes, se passa nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul. Tem amor e traição? Claro. O mameluco, mesmo apaixonado por sua esposa, se embeiça pela rainha das Amazonas, pela feiticeira Dirce e por Neusinha. Romance épico e mitológico, o imaginário coletivo está presente em suas páginas, evocando eventos grandiosos e histórias imemoriais de origem indígena, africana e europeia. É um road novel: Jaraguá percorre mais de 20 mil quilômetros por terra, mar e ar, ziguezagueando Brasil a fora. (Subjacente, desenvolve-se o tema do atribulado retorno do herói.) Narrativa pós-moderna, emula vários estilos e cita – de forma sutil ou escancarada – uma pá de autores, numa intertextualidade vertiginosa. Homero (o verdadeiro), Dante, Joyce, Machado, Euclides, Graciliano, Guimarães Rosa, Cego Aderaldo, Pompílio Diniz e outros são referenciados, apropriados, deformados, desconstruídos, reconstruídos, em rápidas cenas ou elaboradas paródias. É engraçado e sério – garantem o autor, o editor e a prefaciadora. Pois, se as peripécias do herói inzoneiro resvalam amiúde para o humor, seus fracassos e de seus sócios desvelam os impasses do Brasil eternamente inacabado. Trata-se, pois, de obra múltipla, que seria até pretenciosa, se se levasse excessivamente a sério. E tudo pelo preço de um só livro.

Primavera 2020

Literatura Brasileira