Uma coisa é não ter memória, outra coisa é não ter passado. Pedro, um dos protagonistas do livro Jonas Vai Morrer, padece desse mal. Como é dito na obra: “Pedro não lembra muito da própria infância, nem do depois. O rapaz esquecera a criança e o homem esquecera o rapaz. Um dia a apagar o outro, uma fita cassete gasta de tanto uso, o pretérito, um ténue chiado, a reverberar sobre o agora. Isso facilita a vida. Quem não recorda ambições antigas não tem frustrações contemporâneas”. O paradoxo aumenta se levarmos em consideração que Pedro nasceu e vive em Guimarães: “Incontáveis foram as vezes em que Pedro se prostrou no Largo da Alameda a admirar, aterrado, a frase que ornamenta uma das torres da muralha que, em tempos idos, protegia a seminal cidade: ‘Aqui Nasceu Portugal’. Ele não é estúpido, sabe que o dito apenas sublinha a fundação do país. O que não impede que ela, a frase, também realce, com o seu peso, a pequenez, a insignificância de alguém como ele”.
A história de Jonas Vai Morrer, começa a desenrolar-se quando cai nas mãos de Pedro um caderno com um relato apócrifo (será um livro? serão memórias? meras deambulações de um louco?) em que conhecemos Jonas, um personagem com a morte anunciada e um misterioso narrador, assumidamente misógino e misantropo. A partir daí, esse segundo romance de Edson Athayde, escrito no âmbito de uma Residência Literária de Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura, revela-se um (quase) policial, enredando o leitor em mistérios recorrentes, crimes e tramas que nunca são o que parecem ser.