Labirintos de Pedra

As crônicas reunidas em Labirintos de Pedra foram escritas entre 1968 e 2001. Cobrem o período de uma geração, longo para uma vida humana, mas insignificante para a história de um país ou da humanidade. Nestes trinta e poucos anos, o mundo assistiu a imensas transformações políticas, sociais e tecnológicas, viu ditaduras cruéis desmoronarem, seres humanos serem torturados até a morte, crimes, violência, mas também pequenas e grandes vitórias da dignidade humana e da ciência que trabalha em prol do homem. Um caos de fatos claros que o cronista Rodolfo Konder, atento, fixou com paixão de jornalista, arte de escritor e, em alguns casos, experiência de participante.
Participante e vítima, prisioneiro durante o regime militar, que registra em crônicas contundentes (A Invasão, Os Sobreviventes, Mocassins Pretos), duras como um soco no queixo e em flagrantes como esse: "Os carcereiros aumentam o volume da rádio, supostamente para ocultar os gritos do jornalista Vladimir Herzog, naquele momento sob tortura. Sentado num banco de madeira, com um macacão do exército, sapatos sem cadarço, capuz negro na cabeça, ouço a notícia".
Foram-se as ditaduras (a brasileira e outras), a vida pessoal do cronista mudou, fez inúmeras viagens, conheceu um grande número de países, viu a neve cobrindo Estocolmo, passeou por Moscou, pegou o trem de Nova York para Montreal, entrevistou gente famosa (Julio Cortázar, Nelson Rodrigues, Yves Montand, Raul Julia), mas as marcas dos anos de chumbo persistiram e, de maneira direta ou indireta, estão presentes em cada peça desse labirinto de crônicas, sinal de angústia, mas também advertência para se manter a vigilância que torna possível a liberdade: "Mas o passado ainda pode nos ensinar muita coisa. Ele nos oferece incontáveis lições de vida. Basta não esquecê-lo".