Paredes emassadas, filetes de tinta branca sobre o piso. Ela nunca tinha ido ali sozinha - pra que uma menina ia ficar andando em construção? - mas a atração era forte, e foi visitar a obra depois da aula, serena, nervosa. Deixou a mochila na escada, escutava os rangidos da espátula, a voz de veludo do pintor cantando uma música do Fernando Mendes. Ele olhou-a assustado. Nunca a vira sem o pai ou a mãe. Oi, pedro... Ela, sentindo-se dona, foi andando pelos cômodos, cheirou uma lata de tinta aberta, pôs as mãos nas paredes, acariciou-as, foi se despindo, se sujando com o pó fino da massa, armando a teia com o corpo. Pedro, vem aqui. Suave, mas firme; tranquila, mas em erupção. E ele veio, inseto fragílimo, ceia da aranha adolescente.
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