O mito de Lilith – a mulher nascida livre antes de Eva, originária da terra como Adão, que não reconhecia sua suposta supremacia, e relegada ao convívio com os demônios habitantes dos sonhos dos homens – ressurge na fictícia Lone. A personagem que dá nome ao romance agora é paleontóloga e diretora do Museu de História Natural da cidade. Ao mesmo tempo que choca a crítica, Alina Reyes, autora do premiado O açougueiro, é exaltada por resgatar o erotismo na literatura e por sua habilidade em descrevê-lo com intensa fantasia.
Lilith foi lançado na França em agosto de 1999, como num texto bíblico pós-moderno, a narrativa é projetada em um tempo suspenso onde a transição entre os acontecimentos se pontua por colapsos, magia, fatalidade e destino. Lilith é básica, seu instinto, primitivo. Sente fome no ventre e atração por uma combinação de carne e sangue. Transformada na mais voluptuosa das criaturas, graças a uma cirurgia estética, este modelo híbrido de mulher, em plena mutação, empreende uma jornada sensual que busca satisfazer plenamente os homens.
Este é o paradoxo de Lilith: um corpo fake, desprovido de qualquer virtude, que a possibilite experimentar verdadeiramente seus instintos e paixões e resgatar o desejo adormecido nos cidadãos de Lone: "a cidade está cheia de pregadores que vêem o diabo na carne, por ódio à vida. Eu, Lilith, quero pelo êxtase erótico fazer com que saiam dos seus limites, animar as carnes de vocês, prostradas de necessidades e contingências".
Na fronteira entre delito e delírio, Lilith destila suas peculiares concepções da ciência, da metafísica e da humanidade e descreve as cenas de sexo, tão explícitas quanto frenéticas, recheadas com um erotismo sórdido e mundano, num fluxo ininterrupto de instintos insaciáveis.