Um grande romance histórico de Gore Vidal, subestimado pela Academia, inclusive por não apresentar detalhadamente todas as fontes utilizadas, relacionando bibliografias, fortuna crítica, notas de rodapé... o que, claro, tornaria qualquer romance, ainda que histórico, tedioso.
Já no século XIX (o presidente foi assassinado em 1865), havia a percepção de Lincoln como estadista e escritor de gênio. Leitor apaixonado de Shakespeare, Milton e da Bíblia na versão autorizada King James. Leu Voltaire, Tom Payne, Darwin, Spencer e Feuerbach. Presidente, Lincoln escrevia seus próprios textos. Num deles, disse: “Uma casa dividida contra si própria não pode permanecer de pé”. Perfeccionista, demorava até um mês para escrever um discurso de poucas linhas. “Seu estilo era habilidoso nas cadências, preciso na escolha de palavras, e no entanto também instintivo e natural; era inseparável de sua personalidade em todas as manifestações”, pontua o crítico Edmund Wilson. Vidal cita Edmund Wilson, autor de um belo artigo sobre o presidente americano como escritor e precursor da prosa enxuta de Mark Twain e Hemingway: “Há momentos em que nos sentimos tentados a achar que a coisa mais cruel que aconteceu a Lincoln desde que foi alvejado por Booth foi cair nas mãos de Carl Sandburg”. Vidal concorda — Sandburg seria um “biógrafo de péssima qualidade” —, diz que o presidente americano é “um dos homens mais interessantes e sutis da história mundial”, menciona William Herndon, sócio de Lincoln num escritório de advocacia: “Ele era o pensador mais contínuo e severo da América. Lia pouco, mas com um objetivo. A política era o seu Paraíso e a metafísica, o seu Inferno.”.
História / Romance