Uma literatura que não usa perfume nem trajes de gala. Em José Louzeiro, as coisas aparecem com o odor que têm em nossa realidade social, envoltas por farrapos de favelados ou cidadãos de segunda classe, por disfarces, ternos com cheiro de delegacia ou, ainda, por uniformes a serviço de objetivos escusos. Neste autor, que ousa levar a reportagem às últimas conseqüências, a busca da objetividade e a tentativa de resgatar do esquecimento o drama humano causador e decorrente da violência deslocam para um segundo plano as preocupações de ordem formal. As frases esmeradas ou as expressões exatas cedem lugar para o"jeito de falar" do povo, para o palavrão cru, sem que isso deixe de prender o leitor da primeira à última linha de qualquer de suas obras
Livros como Lúcio Flávio ou Em Carne Viva não são simples retratos corajosos de um dos períodos mais tristes de nossa história. São dedos pousados sobre uma de nossas principais feridas sociais: a violência. Sua literatura incomoda os bem-postos e os bem-pensantes. Talvez por isso Aracelli, Meu Amor tenha sido apreendido e a obra de Louzeiro ainda não tenha subido os degraus que
separam o mundo da Academia.
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