Judeu vienense, sábio poliglota, polemista dos mais temidos, professor em dois continentes, Leo Sptizer [1887-1960] foi um dos grandes vultos da crítica e da história literária no século XX. Formado na melhor tradição filológica e estilística das universidades germânicas, era capaz de dedicar o mesmo empenho e argúcia a um texto medieval ou a um slogan contemporâneo, a Gil Vicente ou a Marcel Proust: nada, na língua e na linguagem, deixava-o indiferente, tudo parecia suscitar nele a mesma curiosidade, o mesmo gosto pela porfia explicativa. Em Três poemas sobre o êxtase, a propósito de poemas de John Donne, San Juan de la Cruz e Richard Wagner, o crítico austríaco desafia o fenômeno poético no que ele parece ter de mais avesso à linguagem cotidiana e à investigação racional: a expressão de estados de alma tão fugidios e intensos, tão esquivos como centrais. Em suas mãos, o exame das minúcias e dos meandros de cada poema perde toda aridez, e o microscópico transfigura-se em microcósmico.
Ensaios / Poemas, poesias