Neste livro extraordinário de Luis Antonio Baptista, O veludo, o vidro e o plástico, percebo um grande respeito pela dignidade da pessoa, uma consideração especial para quem afirma a potência do sujeito até nas condições mais difíceis. Percebo nele a emoção da esperança. Encontro neste livro o valor epistemológico dos antagonismos ao poder constituído, o reconhecimento, nos processos de mudança, do protagonismo dos humildes. Já tivera oportunidade de apreciar essas capacidades em Luis Antonio, na época em que ele, professor do departamento de psicologia da UFF, pediu-me para ficar em Imola, onde eu estava comprometido em fechar o hospital psiquiátrico. Ficara surpreso: Porque ele pretendia se exilar, durante alguns meses, numa cidadezinha do interior?
Fascinava-me e me intrigava este homem que pretendia ver tudo diretamente, nos menores detalhes, sem descuidar de nada, em tudo envolvendo-se emocionalmente. Luis Antonio Baptista vivenciou junto com os usuários os momentos épicos da libertação e a solidão do dia a dia. Descobriu junto com eles "uma outra cidade" diferente daquela oficial da razão. Entendeu que a luta iniciada por Franco Basaglia exigia modalidades singulares de pensamento e de ação para dar visibilidade aos "invisíveis", para contrapor-se à institucionalização das novas instituições. Os "novos cidadãos" demitidos do manicômio eram o espelho do homem diante da incerteza da liberdade - a liberdade a ser conquistada, por eles e por nós, a cada dia. Junto com os usuários, Luis Antonio procurou o sentido do viver, movendo-se entre as ausências e as presenças, os vazios e os cheios do nosso viver cotidiano. Neste seu trabalho, Luis Antonio Baptista revelou, mais uma vez, sua seriedade de metodologia, sua atenção para as coisas e as pessoas.
Ernesto Venturini