Degenerados

Degenerados Johnny Gonçalves

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Degenerados





Abel, um simpático e desmemoriado professor de História Contemporânea, implanta um gravador de pensamentos no lóbulo de sua orelha esquerda. Assim começa “Degenerados”, aventura contada em forma de diário, uma transcrição dos registros colhidos nos trinta e sete dias em que o aparelho permaneceu conectado à sua mente.

Passam os dias, projeções coloridas anunciam no céu a virada de ano, mas não se sabe exatamente em que época tudo acontece. Um futuro distante? Talvez esse futuro esteja mais próximo do que se consegue imaginar. O local da narrativa também é incerto. Vastos continentes encerram a geografia política de um planeta quente e populoso em que quase todas as cidades são gigantes.

Na metrópole de Quantar, a democracia representativa é regida por critérios de mercado. Os líderes políticos são grandes executivos que assumem seus gabinetes de acordo com as cotações de preços nas bolsas de valores. A comunicação de massas e as redes sociais vieram supostamente para aproximar as pessoas, porém sobreveio delas o isolamento, a solidão e o recurso à anestesia psíquica obtida com os fármacos. Julgávamos que a aldeia global permitiria o convívio harmonioso entre as diferentes maneiras de pensar, mas suas ondas irradiaram o culto à uniformidade, a banalização do comportamento e o reforço dos preconceitos.

É nesse contexto que o jovem professor, com seus quarenta e dois anos que o fazem sentir-se meio pueril aos olhos de um número crescente de centenários, apaixona-se por Zala, criatura desenvolvida no laboratório de seu pai, o engenheiro geneticista Dr. Mendel. Se Abel é uma “criança” nessa geração de longevos, Zala é quase um bebê que precisa ser tutelado por lei – embora as transnacionais não ignorem seu excelente currículo profissional. A maior parte do seu complexo organismo é semelhante ao de uma mulher convencional, mas a outra parte, não menos importante, consiste em um arranjo biológico proveniente de animais irracionais. Assim criada, ela é capaz de perceber sons que nenhum ser humano é capaz de ouvir, tanto que chega a enxergar por meio de suas estranhas orelhas. Seu olfato também é extraordinário, mais aguçado que o de qualquer cão farejador. Zala tem poderes fascinantes.

Seus poderes despertam fascínio em alguns, como o professor Abel, mas o genoma híbrido produz medo e intolerância em uma sociedade forjada pelo ideal de homogeneidade. Vem daí o título do romance: degenerado é o primeiro descendente de uma velha espécie, o portador “de gene errado”, que vive numa civilização dominada por uma visão eugênica de si mesma, temerosa de violar o código genético original do homem. Para o romântico professor, Zala é paixão, desejo e sonho. Para outros, no entanto, é uma verdadeira ameaça.

Escrito em primeira pessoa, tempo presente, como o fluxo da consciência de um acadêmico que pouco a pouco vai se descolando de sua morna realidade cotidiana, este romance pode ser visto como uma sugestiva metáfora dos tempos atuais. Ficção científica, fantasia, romance filosófico, investigação de costumes, enfim, qualquer rótulo que se aplique a esta bela história de amor será uma injusta simplificação, principalmente porque os rótulos são exatamente aquilo que mais costuma roubar o sono de seus protagonistas.

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Johnny
cadastrou em:
09/05/2012 11:14:14

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