Os filósofos antigos tinham um belo nome para uma espécie de estado de contentamento perene: eudaimonia. A sua tradução literal seria algo como “o estado de ser habitado por um bom daemon, ou espírito”. Os estoicos, provavelmente, diriam que é simplesmente o estado alcançado quando “vivemos de acordo com a natureza”. Isto é, quando temos perfeita noção da natureza e do mundo a nossa volta, e sabemos que há coisas que podemos decidir, e outras que nos escapam totalmente o controle. Assim, seria inútil buscar a felicidade todo o tempo, algo literalmente impraticável, de modo que o mais sábio é sabermos discernir a felicidade possível em meio a um mundo impermanente e, muitas vezes, brutalmente dolorido. Mas viver apenas lamentando as dores do mundo seria tão equivocado quanto buscar somente os prazeres, todo o tempo. O estado de contentamento com a vida, eudaimonia, surge justamente da sabedoria que reconhece a felicidade possível, mesmo que a vida volta e meia nos arraste para onde não gostaríamos de estar.
O estoicismo é uma escola de filosofia que floresceu na Grécia Antiga e, posteriormente, também na Roma Antiga. Os estoicos acreditavam que a prática das virtudes filosóficas era suficiente para alcançar a eudaimonia e, consequentemente, uma vida bem vivida. Sêneca foi o filósofo estoico que mais deixou obras inteiras para a posteridade, e dentre mais de uma centena de cartas, peças de teatro e diálogos filosóficos, quiçá aquela que melhor resuma o seu pensamento seja justamente a que fala da felicidade possível, De Vita Beata, cujo título foi traduzido do latim como Da Felicidade ou A Vida Feliz.
É ela que compõe esta edição, boa leitura!
Filosofia / Religião e Espiritualidade