Callado nunca se conformou com as mentiras oficiais e em toda a sua vida de escritor e de jornalista fez questão de mostrar o Brasil como ele é. Em a "Madona de cedro", seu segundo romance, publicado em 1957, o escritor utiliza-se das técnicas do romance policial - e um pouquinho do estilo de James Joyce, escritor que, ao lado de Marcel Proust, inspiraram-lhe para o ofício - para mostrar como funcionam os mecanismos da injustiça e da opressão. A trama se desenvolve em torno de uma imagem sacra roubada na cidade histórica de Congonhas do Campo. O enredo, a composição dos personagens e a preocupação com a estética já evidenciam a rapidez de raciocínio do escritor, seu senso agudo para observar a realidade e sua incrível capacidade de concisão ao narrar em poucas palavras situações de extrema tensão. A firmeza em denunciar as injustiças sociais, exercitada com brilhantismo nesta obra, valeriam a Callado mais tarde (1964 e 1968) duas prisões durante o regime militar.
Literatura Brasileira / Romance