"Maria José, engenheira da palavra, foi em busca da poesia de Milton Rezende e fez um trabalho de levantamento exaustivo dos núcleos constantes de toda a sua obra. Até chegar ao que ela denomina em seu texto de núcleo sutil de erotismo. Até chegar a este estupendo poema de Milton Rezende, intitulado
MARIA
O céu desaba sobre mim
com sua cara de fogo
e nuvens de cores,
num movimento frenético
no compasso do amor.
Quando terminarmos
e o sol e a lua e as estrelas
forem embora nas alturas,
eu voltarei a ser noite
ou terei incorporado luzes
suficientes para esperar
até a próxima vez?!
“Este poema é outro exemplo do núcleo denominado “erotismo sutil” e gira em
torno do re/encontro e sua fugacidade. Intervalos de luz e de sombras em que o poeta se questiona sobre o vazio ou o preenchimento, o vácuo ou a plenitude do amor”. Maria José chegou perto e arriscou sua interpretação.
Chegar até um poema como este, chegar perto do fogo que é este poema, é correr todo o risco de se queimar ao contato com o que ele diz. Porque o poema não diz a melancolia, não permanece no impasse, não escreve a impossibilidade geradora de paralisia. O poema abre-se à fronteira do imprevisível humano. O poema não constata: “E eu voltarei a ser noite.” O poema pergunta sobre as condições de possibilidade de o amor ter deixado marcas luminosas como vagalumes. Que sinalizam o caminho da espera.
A espera é tudo no amor. Uma arte para poucos. E o poema de Milton Rezende é uma espécie de suma preciosa desta arte para poucos. Poucos esperam pelo tempo em sua vinda, pelo que demora. O poema de Milton Rezende demora na pergunta. Com a delicadeza de quem foi marcado pela luminosidade que os corpos produzem quando se atraem. O poema habita o intervalo. E se move e diz de novo o retorno do amor na instabilidade de um talvez".
Luiz Fernando Medeiros
Literatura Brasileira