O Gabinete Negro

O Gabinete Negro Max Jacob


Compartilhe


O Gabinete Negro


Cartas com comentários




O gabinete negro é uma compilação de cartas, em sua maior parte fictícias, criada pelo romancista, poeta e pintor francês Max Jacob (1876-1944), figura central no cenário das vanguardas parisienses do início do século XX. A obra, inédita no Brasil, representa um dos melhores exemplos da estética cubista na literatura.
A seleção de cartas, publicadas em 1922 e posteriormente aumentada em 1928, são, segundo o professor Pablo Simpson, especialista na obra de Jacob e autor do posfácio da edição brasileira, “um espaço de criação intelectual admirável”. O escritor situa as missivas em épocas diversas – do século IX ao XX –, e assume diferentes registros de texto – da mãe para a filha, do pai para o filho, da empregada para a patroa, até uma bula papal do século IX –, numa multiplicação de escritas tecida habilmente pelo autor, como analisa Simpson.
As cartas quase não têm relação entre si, o que distancia o livro do formato tradicional dos romances epistolares. Há todo tipo de queixa, pedido, conselho, descrição e declaração nos textos assinados por personagens variados. Não é difícil perceber nesses fragmentos a possibilidade de desdobramento em novelas e romances, e de fato alguns personagens estão presentes em outras obras de Jacob.
As missivas são, em boa parte, seguidas de comentários de autoria desconhecida, indicando a existência de um terceiro leitor, ao qual o título do livro se refere: o “gabinete negro” era o serviço de espionagem do Antigo Regime, que interceptava e abria cartas por ordem governamental para detectar trechos comprometedores ou ameaçadores da “ordem”. Diante desses comentários, o leitor final, com o livro em mãos, se depara com o próprio voyeurismo.
Os efeitos cômicos são inevitáveis a partir da tensão entre as formalidades da escrita epistolar e o conteúdo das mensagens, cheias de pequenas intrigas e grandes desaforos. A primeira carta do volume já evidencia esse dispositivo: nela, um pai furioso comunica ao filho que deixará de custear os seus estudos depois que o jovem rouba sua amante. Noutra, uma senhora desgostosa com os costumes modernos da capital francesa recomenda à filha os melhores modelos de vestimenta para uma dama da sociedade. Religiosos e juristas entram em cena para tratar de supostos desvios morais de moças libertinas e rapazes vadios.
O autor se oculta sob os personagens e, sempre com a intenção de juntar peças que ora esclarecem, ora confundem o leitor, constrói um mosaico cheio de arestas e confrontos, em chave de sátira de costumes. O jogo de simulações é tal que duas das cartas presentes no volume são verídicas e, no entanto, como observa Pablo Simpson, parecem as mais inverossímeis.

Literatura Estrangeira

Edições (1)

ver mais
O Gabinete Negro

Similares

(3) ver mais
As Relações Perigosas
Ligações Perigosas - Formato Convencional
As Ligações Perigosas

Estatísticas

Desejam17
Trocam
Informações não disponíveis
Avaliações 3.8 / 6
5
ranking 17
17%
4
ranking 67
67%
3
ranking 0
0%
2
ranking 17
17%
1
ranking 0
0%

40%

60%

Raphael R. Almeida
cadastrou em:
10/02/2018 20:33:15

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR