Areopagitica, escrito em 1644 por John Milton, é um marco na defesa da liberdade de expressão. Embora se dedique a demonstrar o absurdo perpetrado pelo Parlamento da Inglaterra com a Ordem do The Long Parliament para a regulamentação da impressão, de 14 de junho de 1643, ou Ordem de Licenciamento, portanto, visava algo específico, Milton produziu um material poderoso que pode, e deve, ser usado ainda hoje para defender a liberdade de expressão em qualquer forma, meio ou lugar, algo que está sendo retirado das populações de todo o mundo e de forma lenta e gradual, como aquela imagem metafórica do sapo na panela sendo cozinhado devagarinho, sem que se aperceba.
O discurso foi ousado para a época por ser endereçado às duas Casas do parlamento inglês, a House of Lords e a House of Commons; e ousado hoje se fossemos reproduzi-lo para criticar o STF, por exemplo. Milton está, veja que coincidência, neste discurso, discutindo que poder é este que determina o que é verdade e o que é mentira, o que deveria ser publicado e o que deveria ser suprimido.
A maior parte das ideias de Milton eram, para a época, inusitadas, além de haver ali um caráter de enfrentamento por sua contundência, retórica e implicações morais e políticas. Ele aborda na defesa os gregos e os escritos bíblicos em vários momentos. O próprio título da obra já é uma referência grega. John Milton tinha em mente o Tribunal do Areópago, ou Conselho dos Areopagitas, que possuía autoridade para interpretar as leis e julgar os cidadãos de Atenas na Grécia de Sólon. A tarefa em Areopagítica é uma tentativa de convencimento, por um lado, uma emulação do estilo oratório clássico iniciado por Isócrates, com as complexidades retóricas que um texto permite, por outro, e ainda uma ousadia, porque o impresso contendo o texto é um documento não licenciado, o que era expressamente proibido pela Ordem.
Leitor, este livro é, portanto, um clássico imperdível.