O futuro pode ser visto como resultado de um movimento de transcendência dos indivíduos em função de novas experimentações existenciais. A partir desta premissa – a única, aliás, que permite enxergar o papel decisivo do sujeito na configuração dos destinos humanos –, Nelson Levy propõe aqui a utopia como a forma discursiva por excelência de um novo tempo que se apresenta em vista de um vir a ser outro.
Na maior parte do percurso que se estende do Renascimento até os nossos dias, a utopia foi destronada da sua função de porta-voz de um futuro diferenciado por uma concepção evolucionista que encarava o curso histórico como um processo predeterminado – independente de todo desejo – marchando inexoravelmente em direção a um suposto progresso final da humanidade. Diante desse fatalismo, era de se esperar que qualquer projeção imaginária do devir terminasse estigmatizada, a priori, como delírio de uma mente fantasiosa. Ao se desviar dos seus fundamentos primordiais, a cultura moderna rejeita a utopia e, com isso, torna equivalentes a crise da utopia e a crise da modernidade.
NELSON LEVY é mestre em Filosofoia (UFRJ) e doutor em História (UFF).