As memórias do passado distante ou do presente imediato, a sabedoria e as dores do amadurecimento, a indignação da cidadã e os encontros e desencontros do amor e do sexo são a matéria-prima de Entre ossos e a escrita, seleção de crônicas publicadas na revista Época. Escrever é, tanto quanto interpretar, expor-se. Ciente disso, Maitê Proença tempera seus textos com um elemento que explica seu sucesso: a sinceridade. Impregnada de humor e ironia, que espantam a pieguice, ela mostra que a peculiar sinceridade do escritor envolve a fidelidade a impulsos e emoções.
Tudo o que se lê aqui é, assim, verdade e mentira: a família, as viagens, o momento em que o inconsciente toma a frente e desmonta as resistências cultivadas, a lembrança de uma grande atriz... O que importa é a cumplicidade entre autora e leitor. "Escrever é verbo intransitivo, pede complemento direto, que em latim exige o acusativo", escreve Carlos Heitor Cony no prefácio. "E Maitê acusa, acusa no sentido de estar presente, e não em termos de libelo, denúncia ou queixa, mas de expressão de seu mar interior."