Em seu primeiro livro de contos, a escritora e roteirista Patrícia Melo demonstra a mesma riqueza na construção das tramas e personagens que caracteriza seus romances e novelas, e, com seu humor ácido, volta ao tema ao qual tem se dedicado: nossa perplexidade diante da morte. A escritora Cecília é a linha unificadora que atravessa a obra, ilustrando a agonia que acompanha o ato da criação e a luta dos autores para manter o controle de seus personagens, que amiúde assumem os próprios destinos e personalidades, desafiando o leitor a distinguir ficção dos fatos, fantasia e alucinação do que é real.
"Daqui dessa trincheira - é assim que gosto de chamar o meu local de trabalho, co m suas e camadas de livros e papéis, formando um recife à minha volta - daqui, como Hades, planejo tudo sozinha.Não há outros sócios ou parcerias possíveis. Sou vórtice que leva os personagens ao seu destino. Sou responsável por cada gesto e cada fala.Quando minha tropoa de fodidos abre a boca, o grito é meu.Eu decido. Eu digo ataquem.Destruam, e eles destroem."