Inácio era invejado por todos os outros ratos: nunca tinha visto um gato. Sua ideia sobre o inimigo fora concebida a partir dos relatos dos outros que já tinham sofrido a ameaça. E assim, Inácio levava sua vidinha sem nunca ter topado com o perigo. Até que um dia, passeando pelo bairro, topou com um animal esquisito, de pelo macio, olhos verdes e brilhantes, que tão logo se tornou amigo: era um filhote de gato. Entre leite e pedaços de queijo, os anos se passaram, assim como o paladar do bichano que, entre Inácio e o seu instinto, preferiu abrir uma lata de atum. Inácio era mesmo sortudo, pois o bichano até escolheu um nome que combinava com o seu: Bonifácio. E pra arrematar Juvenal, o cão, vinha algumas vezes brincar com os dois. Falar aos pequenos pela voz dos animais, interlocutor ideal para conversarmos sobre quase tudo, Lucia Reis personifica os animais, projetando neles características humanas. Texto descontraído e com humor, vai delineando seu próprio espaço, como se nós leitores nos sentíssemos desafiados a resolver o problema exposto, pela autora, que nos presenteia com um final surpreendente.