Literatura e Ecologia

Literatura e Ecologia Elda Firmo Braga




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UM OLHAR ECOCRÍTICO



(...) a literatura não flutua acima do mundo material em algum éter estético, ao invés disso, tem um papel num sistema global imensamente complexo, no qual energia, matéria e ideias interagem (GLOTFELTY, 1996, p. XIX)[1].



Em The ecocriticism reader – landmarks in literary ecology, Cheryll Glotfelty, ressaltando a importância da inclusão de questões ecológicas nos estudos literários, dialoga com a primeira lei da ecologia formalizada de modo simples por um dos mais respeitados ecologistas, Barry Commoner: “todas as coisas são interligadas umas com as outras” (GLOTFELTY, 1996, p. XIX).

Conforme documenta Glotfelty, embora individualmente, desde os anos de 1970, pesquisadores da literatura e da cultura têm desenvolvido teoria e crítica ecologicamente informadas, somente em meados dos anos de 1980 “o campo de estudos literários ambientais foi plantado, e, no início dos anos 90 cresceu” (GLOTFELTY, 1996, p. XVII).

Em 1993, convém registrar como marco importante nos estudos literários ecocríticos a criação por Patrick Murphy do periódico intitulado Interdisciplinary studies in literature and environment destinado a “promover um fórum de estudos críticos das artes performáticas e literárias procedentes ou que façam considerações ambientalistas. Incluem-se aqui teoria ecológica, ambientalismo, conceitos de natureza e suas representações, a dicotomia humano/natureza e preocupações afins” (GLOTFELTY, 1996, p. XVIII). Por essa época, a ecocrítica emerge como uma tendência de reconhecida importância no campo da crítica literária, embora o termo ecocrítica já tivesse sido cunhado há mais de vinte anos por William Rueckert, em “Literature and ecology: un experiment in Ecocriticism” (reeditado em 1996 no volume citado acima), onde propôs que se relacionassem aspectos ecológicos à leitura de textos literários, ao ensino e à escrita sobre literatura.

No Brasil, motivada por sua reconhecida sensibilidade para as causas ecológicas, Elda Firmo Braga se situa no grupo de críticos literários e de professores universitários que orientam seus trabalhos para o poder de atuação energética inesgotável da literatura, no sentido da conscientização da comunidade humana para as necessárias transformações sócio-ambientais, em prol do equilíbrio do nosso planeta. Neste volume, a visão ecológica da Autora se projeta e se especifica, ao trazer ao leitor um novo olhar para a produção literária do escritor peruano Manuel Scorza (1928-1983). Ecocriticamente, ela associa as dimensões estéticas da pentalogia “La guerra silenciosa” às motivações ecológicas dos romances, que aborda com o auxílio da ecosofia de Félix Guattari (As três ecologias), pela qual se integram o registro ambiental, o social, e o mental ou da subjetividade.

Nessa perspectiva, relacionando história e ficção, as estratégias estético-literárias de Scorza dão visibilidade à voz dos indígenas, num trabalho de denúncia da exploração do índio peruano e dos abusos de poder exercidos por grandes proprietários rurais e por companhias mineradoras estrangeiras.

Nas interações do índio com a terra se centralizam as motivações ambientais da escritura scorziana e da leitura de Braga. Para as relações entre opressor e oprimido, se voltam as motivações sociais. Projetam-se diretamente as motivações mentais nas transgressões da linguagem, especialmente pelo vigor figurativo das imagens e pelo jogo da ironia e do humor, nos quais se inter-relacionam os três registros ecológicos.

Deixando aos leitores diferentes modos de aprendizagem ecológica, nas descobertas feitas pela Autora na pentalogia scorziana, eu ressaltaria que uma das grandes forças deste volume está na indissociabilidade da consciência ecológica do escritor e da crítica, numa cumplicidade que só é possível quando construída autenticamente, desde os mais profundos desejos de engajamento nas formas de preservação da vida.

Ambos, Scorza e Braga, parecem nos dizer que a energia do literário, despoluindo as subjetividades, abre um caminho para as necessárias mudanças reconstrutoras no socius e no meio ambiente.



Dra. Angélica Soares

(Professora de Teoria Literária – UFRJ)




[1] GLOTFELTY, Cheryll. Introduction-literary studies in an age of environmental crisis. In: GLOTFELTY, Cheryll & FROMM, Harold; eds. The ecocriticism reader – landmarks in literary ecology. Athens / London: Univ. of Georgia Press, 1996. (Todas as citações de Glotfelty são traduções inéditas da autora deste Prefácio).





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