Gabi
08/11/2017Jojo sendo Jojo"Mas eu sorria e chorava ao mesmo tempo, porque sabia que às vezes tem mais bondade no mundo do que dá para imaginar, e que tudo ia acabar bem."
Liza McCullen possui um passado do qual não gostaria de se lembrar. Ela vive com a tia, Kathleen, e a filha, Hannah, num vilarejo pacato da Austrália, Silver Bay, onde tenta se sustentar trabalhando com um barco observador de baleias jubartes e administrando um antigo hotel com a tia. Desde de que chegara ali, cinco anos atrás, Liza aprendeu a lidar com a maior perda de sua vida de uma maneira pouco saudável, se fechando para o amor e para qualquer tipo de ajuda que poderia ser oferecida a ela. Não se pode dizer que seus dias eram carregados de felicidade, mas Silver Bay aparentava ser tranquila. Pelo menos até Mike Dormer aparecer.
"E agora, passados cinco anos, o que uma fotografia dela revelaria? Alguém que talvez não tenha feito as pazes com o passado, mas cujo caráter traz uma determinação feroz de fugir dele. Uma pessoa amorosa, corajosa, porém mais triste e mais arisca do que eu gostaria que fosse."
Alegando ser apenas mais um hóspede como outro qualquer, ele, na verdade, estava ali a negócios: seu objetivo era preparar terreno para a futura construção de um resort de luxo na área. Ele só não poderia imaginar, entretanto, que se envolveria tão profundamente com aquelas pessoas a ponto de tentar reverter as negativas consequências para a cidade, para a fauna marinha e, principalmente para Liza e Hannah. Apesar de estar noivo e carregado de responsabilidades empresariais, Mike vai desistir de tudo que já havia conquistado para salvar inocentes criaturas marinhas, uma mulher misteriosamente triste e uma garotinha esperta.
"E é isso que amo nelas: apesar do poder, da força muscular, da aparência assustadora, as baleias são uma das criaturas mais benignas de todas. Aparecem para dar uma olhada e depois vão embora. Se não gostam de você, dão sinais muitos claros. Se acham que os golfinhos estão recebendo atenção demais dos nossos passageiros, de vez em quando entram na baía, e, enciumadas, desviam a atenção dedicada a eles. É comum terem um comportamento um pouco infantil, fazerem travessuras. Como se não resistissem a saber o que está acontecendo."
A fórmula de Baía da Esperança segue os padrões de Jojo Moyes: drama, romance e segredos. Mesmo não sendo lá uma estória explosiva, provocadora de lágrimas e desespero, a trajetória de Liza, Hannah e Mike – além das jubartes de dos golfinhos – é extremamente tocante e envolvente. Embora, como de costume, o início possa parecer arrastado e confuso (também por conta da narrativa ser dividida entre perspectivas diferentes), Jojo sabe muito bem o que faz. Primeiro constrói contexto, cenários e personagens, para depois começar a narrativa de fato. Quando o leitor se der conta, já estará presos às garras do livro. A única ressalva que tenho a fazer é sobre o desfecho, que, apesar de surpreendente e emocionante, me pareceu falho e pouco criativo em um importantíssimo "detalhe".
De maneira geral, Baía da Esperança merece a atenção dos amantes da autora, de enredos bem estruturados e de romances dramáticos.
"Observe o mar por tempo suficiente, seus humores e suas exaltações, suas belezas e deus terrores, e você terá todas as histórias de que precisa, de amor e perigo e daquilo que a vida nos traz em suas redes. E do fato de que às vezes não somos nós que estamos no leme, e não podemos fazer mais do que confiar em que tudo vai dar certo."