Djeison.Hoerlle 26/11/2022
Eu sempre fui um poser de super-heróis.
Eis o porquê...
Na digo essa frase por não conhecê-los bem, tampouco por ter algum tipo de desinteresse pelo conceito, embora eu admita um certo saturamento em épocas recentes.
O ponto é que, por definição, o heroísmo carrega consigo ideais de bravura e coragem, os quais costumam ser manifestados em páginas de quadrinhos por meio de sequências de combate e violência, e isso me desperta pouco ou nenhum interesse. Sou um apreciador, sobretudo, de tragédias e dramas humanos e massaveios acabam correndo por fora.
Creio que por esse motivo, são raras as histórias do gênero que realmente despertam algo de especial em mim. Mas Homem-Aranha azul foi uma dessas exceções.
Como a própria cor escolhida pelos autores denota, a história é permeada por dois dos sentimentos que, pelo menos na minha experiência de vida, são alguns dos mais intensos: a nostalgia e a melancolia.
À medida que Peter vai narrando as semanas que antecederam o dia de São Valentin que uniu ele e Gwen, fica evidente que muito mais do que a saudade, o texto de Jeph Loeb se preocupa em evidenciar todo um lado existencialista do herói. Desta corrente filosófica, máximas como "o indivíduo é o único responsável por suas próprias escolhas." e "as escolhas levam, inevitavelmente, a perdas" parecem ter sido adotadas como mantras criativos.
E ok, o luto por Gwen é provavelmente o tema mais batido da cronologia do Aranha. Mas o mérito do texto de Loeb é não se limitar a essa abordagem. Por mais que esse ainda seja o ponto de partida da narrativa, ela passeia por muitos outros sentimentos que enriquecem a percepção do Peter como um ser humano complexo. Para se ter noção, ele sente até mesmo um orgulho velado, em certo ponto, por ter tanto Gwen como Mary Jane "comendo em sua mão", nas palavras de Harry.
Esse, talvez, seja o ponto mais desconfortável da narrativa. Nada nela parece justificar a existência de um triângulo amoroso. É até estranho o fato do narrador falar tanto (talvez até mais) sobre MJ do que as suas percepções iniciais sobre Gwen.
Como bom teórico dos comportamentos questionáveis que (acho que) sou, nada me tira da cabeça que se trata apenas de mais uma dentre tantas fantasias de poder que parecem orbitar as histórias do Homem-Aranha. Já é bacana, enquanto jovem sem sal, se imaginar sendo um herói se balançando por Nova York, quem dirá podemdo escolher entre duas super gatas (que é 200% mais do que normalmente se dispõe?!).
Mas passada a microdissertação sobre o tema mais espinhento da narrativa, cabe dizer que ele não a diminui em relevância, já que, sendo sincero, não existe nada mais existencialista do que essas alegrias temperadas com culpa ou esses "e se?" que nos pegamos pensando mesmo estando contentes com a vida que estamos vivendo.
E pra quem aprecia, é óbvio que tem boas sequências de ação, todo tipo de pirueta e posições anatomicamente desconfortáveis no maior estilo Steve Ditko. Além, é claro, das piadinhas. A diferença aqui é que na maioria das vezes, essas sequências são completadas com alguns recordatórios recheados de pesar, o que traz um contraste bem interessante.
Pelo que vi, tá meio ruim se achar esse quadrinho, mas se por ventura encontrarem em uma dessas peregrinações pela OLX ou Shopee, digo que vale a pena!