AJ 25/01/2015
“Raul Germano Brandão, militar, jornalista e escritor português, famoso pelo realismo das suas descrições e pelo lirismo da linguagem. As suas primeiras obras enquadram-se na corrente nefelibatista.” A escrita é descritiva de sentimentos de alma tenebrosos, resvalando para um discurso em que o sonho, a semi-consciência, e filisofias existencialistas conduzem a escrita.
Não há uma história: há uma “Vila”, com alguns personagens, mulheres e velhas. Há decrepitude. Discorre sobre temas, que se seguem: morte, a vida como insignificância, sem paixões, sem fleuma, como um hábito, ou um conjunto de pequenos hábitos. Como ficção. Depois, coloca a questão da morte, se não existisse, de Deus, se não existisse. E, sempre o sonho como uma vida paralela. A consciência e os dramas de consciência. Com a não existência da morte, e assim da tal vida imaterial, porque há dever, bem e mal? Piedade, ternura? Os bons sentimentos só existiam por medo da “vida” futura. Trata a busca existencial de entender o que é a vida, por ligação directa à morte. O que é a vida, se se retirar a sombra da morte como fim certo? A dor, a ternura, a consciência moral como características principais da vida, e, a questão, se não houvesse morte, vida eterna, nem Deus, como ficariam? Mantinham-se?
Mas, a sua leitura é difícil, pela constante profundidade. Não é uma história, não é um texto factual: fala de sentimentos, de sensações, de pensamentos. Muitas vezes não entendi o que ele queria dizer, outras não concordei. Mas, tem, sem dúvida, pensamentos existenciais e coloca questões metafísicas brilhantes…
No final, como em Saramago, não consegue ter um remate ao nível do livro. A mim pareceu-me pueril, e bem menos profundo que todo o livro, ao mesmo tempo que vai numa direcção diferente: a da consciência social, dos ricos e poderosos vs os pobres, não se omitindo de deixar claro o papel da igreja do lado dos ricos, e como exploradora do povo: “Dominá-los-emos pela ignorância (…). E para isso contamos com a Igreja”.
“Temos de manter a ignorância e suprimir a imprensa, (…) que é uma força e só pode existir nas mãos do estado”;
“E, como contê-los? – Pela ignorância”
Achei uma escrita muito vanguardista para aquele tempo. Depois de ler, questiono as 4* que dei ao Amor de Perdição.