Lícia 04/09/2012
Antes de nós
No início, a leitura não prendeu a minha atenção. Achei interessante a proposta da narradora de desvendar os mistérios do passado de sua avó, Danina, que ela sempre tinha visto como uma pessoa idosa, com seus vestidos pretos, chapéus engraçados e biscoitos. A narradora vai mostrando aos poucos a infância e a adolescência de Danina vividas numa academia de balé, com longas horas de ensaio e exaustão, que a levaram a ser uma primeira-bailarina de sucesso e fizeram do balé a única vida que conhecia e desejara. O início da história é bom, mas eu achei um pouco repetitivo, devido à intenção da autora de mostrar que Danina era uma pessoa isolada do mundo real (mundo este que se passava na Rússia czarina, anos antes da revolução de 1917), vivendo apenas para o balé. Um dia Danina cai doente e o médico que cuida dela, Nikolai, aconselha-a a afastar-se do balé durante bastante tempo, para que se recupere completamente da doença. Nesse tempo, outro mundo é revelado a Danina. Ela passa a ser amiga da família imperial e conhece o amor através de Nikolai. Porém, este é casado e ela está sob o constante controle da Madame Markova, a dona da academia, que quer que Danina dedique-se exclusivamente ao balé, proibindo saídas e romances. A história dá uma reviravolta brutal quando Danina, após meses de romance e uma vida que ela nunca havia sonhado fora da academia, tem que voltar ao balé. Apaixonada, tem que lutar contra a distância que a separa de seu amor, a condição social dele, a falta de dinheiro e a marcação constante de Madame Markova, que passa a ser sua pior inimiga. A velha senhora, que a tratava como uma filha, percebeu logo que havia algo de errado com Danina, e começou a persegui-la, maltratá-la. Chamava-a de meretriz, ria-se de seus passos, mesmo quando estes eram perfeitos. Danina e Nikolai sonham com o dia em que poderão viver juntos para sempre. Mas fortes emoções os aguardam em suas vidas. Um aborto, uma guerra, a revolução prestes a estourar e uma iminente viagem aos Estados Unidos mudam a sua vida para sempre. No fim, os segredos são guardados a sete chaves e os acontecimentos daquela Rússia que se perdeu no tempo só são resgatados novamente pela neta de Danina, após a sua morte. É uma história de levar às lágrimas. E para refletir, também, sobre nossos idosos. Como a narradora fala, sempre os vemos como se nunca tivessem sido jovens um dia, como se não tivessem tido outra vida além da que conhecemos. E, quando eles se vão, nos arrependemos de não ter descoberto mais. Apesar de ter deixado a desejar pela narração, é uma ótima história e uma boa leitura.