Aline164 16/09/2013Toscana, bruschetta e torta della nonnaHá vários anos vi o filme Sob o sol da Toscana, lançado em 2003, e não gostei. Mas apenas recentemente me dei conta de que o filme era uma adaptação homônima do livro escrito pela americana Frances Mayes em 1997, soube que ela gosta muito de cozinhar e aprendeu a fazer vários pratos toscanos, o que não fica tão evidente no filme, então decidi ler o livro, porque livros, em geral, são melhores que as adaptações para o cinema.
Apesar de o livro não seguir a linha "boba-romântica" do filme, também não achei nada de mais. Como meu nível de expectativa estava alto, fiquei um pouco decepcionada. Na verdade, o livro não tem história com começo, meio e fim, é um recorte autobiográfico da autora durante algumas temporadas na Itália, contando sobre o processo de compra e reforma de uma villa chamada Bramasole ("ansiar pelo sol"), em Cortona, na região da Toscana.
No livro, Frances aparentemente já havia se divorciado e estava com um novo companheiro, Ed, que, como ela, na época também era professor universitário em São Francisco, nos Estados Unidos. (No filme, mais ou menos por um acaso do destino, ela vai para a Itália para se recuperar do divórcio e, talvez, encontrar um novo amor e um novo rumo para a própria vida.) Depois de uma certa dificuldade com a burocracia italiana, ela compra Bramasole e, como a casa tem cerca de duzentos anos, ela, Ed e vários pedreiros precisam reformá-la.
"Senti o impulso de examinar a minha vida numa outra cultura e ir além do que eu conhecia. Eu queria uma espécie de dimensão física que ocupasse o volume mental ocupado pelos anos da minha vida anterior."
"Existe uma vida nos lugares antigos, e nós sempre estamos de passagem."
Talvez para quem já construiu ou reformou uma casa seja interessante o fato de a autora descrever todo o exaustivo e interminável trabalho com a reforma, além dos gastos, mas, para mim, essas partes eram as mais entediantes.
Apreciei ler sobre várias comidas italianas que ela comia em restaurantes da região ou que ela mesma preparava. Por já ter sofrido com escassez de comida, a culinária toscana também é conhecida como "cucina povera" (culinária pobre) e, em geral, é composta por pratos simples, preparados com ingredientes frescos da época. Há muitas receitas com pães, como a bruschetta (fatias de pão com azeite e algum tipo de cobertura, como tomate picadinho e manjericão que vão ao forno - preparei bruschetta de escarola com queijo pecorino, feito com leite de ovelha, e ficaram boas!). Os trechos em que ela fazia comentários sobre a cultura italiana, em contraste com a cultura norte-americana, também me chamavam a atenção. Fiquei com a impressão de que os italianos, como os brasileiros, também têm um quê de malandragem e gostam de procedimentos burocráticos.
Um detalhe interessante é que a autora inseriu vários termos em italiano ao longo do livro, mas depois vinha a tradução e/ou uma explicação. Para quem sabe ou estuda italiano, é legal, para quem não entende, talvez seja meio irritante. Além disso, o livro também traz algumas receitas de verão e outras de inverno. Inspirada pelo livro, decidi fazer a torta della nonna, porque, depois de descobrir que há pinoli (um tipo de minipinhão cujo pacotinho de 20g custa quase R$ 20 no Brasil!!) em seu terreno, a autora faz esse prato para o Signor Martini, corretor que cuidou dos trâmites da compra e reforma da casa e cuja mãe fazia essa torta para ele, mas não segui a receita que está no livro.
"De repente, diz que sua mãe morreu aos noventa e três anos de idade há alguns anos. - Nunca mais torta della nonna. - Está com um humor estranho hoje."
Por último, gostaria de compartilhar esta passagem sobre lugares e pessoas:
"Os sulistas têm um gene, até o momento não detectado nas espirais do DNA, que faz com que acreditem que o lugar é o destino. Onde você está é quem você é. Quanto mais o lugar penetra em você, mais sua identidade fica entrelaçada com ele. Nunca fortuita, a escolha do lugar é a escolha de algo que a pessoa deseja ansiosamente."
site:
http://www.panisetlibris.blogspot.com.br/2013/08/sob-o-sol-da-toscana.html