Resenhas - A Gravidade e a Graça

none 15/01/2021

Obrigado a Albert Camus por divulgar Simone Weil, o pensamento verdadeiramente libertário agradece
Qual a atualidade de Simone Weil? Qual a relevância do pensamento da autora?
De família judaica, admirava o cristianismo católico, mas não chegou a converter-se (ou não chegaram a convertê-la), lutou na guerra civil espanhola ao lado de anarquistas - vendo, a exemplo de George Orwell, o quão errados estavam os bolcheviques, lutou na resistência francesa ao nazismo, partiu para a Inglaterra. Esse livro prefaciado por um amigo é um esboço, uma seleção de pensamentos da autora de temas que a tocaram durante a vida breve mas plena de vivências ''o peso e a graça'' ensaio que abre o livro, ''Duas forças reinam no universo: luz e peso''; ''vazio e compensação''; ''aceitar o vazio''; ''desapego''; ''ilusões''; ''idolatria''; ''amor''; ''o mal''; ''contradição''; ''beleza'', entre outros.
Inspirada por passagens bíblicas que a autora analisa com cautela e razão, mas também inspirada por seus pensadores favoritos que vão desde figuras místicas como São João da Cruz, o filósofo Platão e o poeta grego Homero, Weil por vezes não é fácil de ser assimilada para o mundo contemporâneo seja pelas suas opiniões contundentes, seja por sua simplicidade extrema. Por vezes é preciso reler uma frase curta, refletir com calma trechos mais longos. Mas sempre tiramos algo de bom, ainda que não seja o bem que ela mesma afirma necessitarmos e alcançarmos.
Sempre que vejo seu nome entre ensaístas, vejo os argumentos de/contra Weil usados para defender partidos políticos. Algo que a autora abominava, tendo escrito Pela supressão dos partidos políticos (um prefaciador americano teve a desfaçatez de escrever nesse livro mencionado acima que não era bem isso que a autora queria dizer...). Como Orwell teve seu pensamento empregado por seus opositores políticos, Weil também foi atacada, seja por sionistas, seja por católicos ortodoxos, liberais, comunistas, conservadores reacionários. Ainda bem que temos alguém em quem confiar dentro da filosofia.
"Os pensamentos são variáveis, obedientes às paixões, às fantasias, ao cansaço. A atividade deve ser contínua, todos os dias, muitas horas por dia. Por isso são necessárias causas da atividade que escapem ao pensamento, e portanto, às relações: ídolos.''
(...) "Só que nos humilhamos diante de falsos deuses.''
Mais adiante, quase no final
"É o amor sobrenatural que é livre. Ao querer força-lo, acabamos por substitui-lo por um amor natural. Mas, inversamente, a liberdade sem amor sobrenatural, aquela de 1789, é completamente vazia, uma simples abstração, sem nenhuma possibilidade de chegar a ser real."