dido4 05/09/2022
A Série das Provações de Apolo
Li essa série em 2020, quando o último livro ainda não estava pronto, e passei 2 anos antes de voltar para o quinto livro. Consequentemente, tive que recapitular o que havia acontecido nos outros livros e, ao fazer isso, percebi que algumas coisas me incomodaram na leitura da série toda, que também estão presentes nessa última obra, então resolvi escrever essa resenha mais sobre a série no geral do que sobre esse livro especificamente. Até porque, acredito que quem estiver lendo essa resenha já vai ter acabado a série ou pelo menos ter lido os outros 4 livros.
Primeiramente, queria falar das qualidades que eu enxergo nas obras de Rick Riordan e deixar claro que apesar das críticas que vou fazer, gosto bastante do que o autor faz. Mesmo não me considerando mais o ?público alvo? desse tipo de livro, ler e voltar para o mundo de Percy Jackson é sempre gostoso. A ambientação e cenários familiares dos livros trazem os sentimentos das outras séries do autor de volta, e a forma que os contos e histórias gregas são adaptadas para o mundo atual se mantém tão boas quanto eram nas outras séries. Inclusive temos deuses e criaturas bem diferentes e novas, que agregam bastante ao universo. Acrescentando a tudo isso, acredito que um dos maiores acertos dessa nova saga foi os pilares que essa série se apoia: os imperadores e as crises nos oráculos, que são ótimos fios condutores para a trama.
Agora, quero falar um pouco das coisas que mais me inquietaram nessa leitura. Uma das minhas maiores críticas é que estamos acompanhando Apolo - um deus - então, enquanto ele é humano, enquanto ele é Lester e tem um cérebro humano, não tenho problema com ele estar falando de coisas divinas e estarmos dentro da cabeça dele. Contudo me incomoda um pouco lermos a perspectiva dele como um deus, pois acho que se não tivéssemos nenhum vislumbre do ponto de vista de um deus em primeira pessoa acrescentaria ao fato de que não compreendemos como a ?mente? de um deus funciona. Quando temos esse ponto de vista, desmistificamos um pouco a ?divinidade?, que, para mim, é um ponto negativo (mas pode não ser para outras pessoas). Ainda nessa questão de pontos de vista, entendo o por que de acompanharmos apenas Lester, pois a temática do livro são as provações dele, mas me fez falta o ponto de vista de alguns personagens e o que aconteceu com eles durante o livro (como por exemplo as aventuras de Nico e os trogloditas na torre de Nero). E, se tivéssemos outros pontos de vista, seria possível fazer os últimos capítulos por outros olhos, que não os de Apolo - já de volta como um deus - e eu confesso que preferiria ler sobre ele como um deus nas perspectiva de outros personagens e não na dele mesmo.
Entrando no assunto dos personagens em si, no começo da aventura dos nossos protagonistas eu não gostavam muito de nenhum dos dois, nem de Lester, nem de Meg, mas com o passar dos livros eu passei a gostar de Lester e entender o crescimento dele, porém Meg nunca me desceu, sempre achei ela uma personagem meio insuportável, e com certeza ela é a personagem das séries de Rick que eu menos gosto. Dito isso, todos os outros que aparecem nos livros são ótimos e reforçam o universo de mitos criado pelo autor.
Por fim, apesar de gostar desse estilo de leitura, creio que essa série peca em um ponto que não é um problema para as outras. Sabemos que todas as coleções são focadas no infanto-juvenil, e temos nesses livros a mesma "fórmula" que Rick Riordan usa em todas as sua obras (que eu já li até hoje), mas ainda assim, acho que por essa série falar de um deus seria preciso ter mais cuidado em como tratamos dele. Os limites de Apolo não ficam bem definidos durante a leitura e acredito que isso impacta negativamente na trama. Por exemplo, quando o autor quer fazer uma piada sobre o instagram do olimpo ou sobre o serviço de streaming das musas, Apolo sempre lembra desses detalhes da época de deus dele, mas sempre que é para lembrar das informações úteis para o contexto parece que sempre escapa a ele. Não acho que isso seria um problema se a relação de humanidade/divindade de Apolo fosse bem estabelecida, mas infelizmente não vi isso.
Em suma, apesar de ter apontado muitas coisas que me incomodaram na série, ainda sim os livros são legais e divertidos de se ler, além de engraçados e leves. Na minha opinião, entre as três séries greco/romanas do autor, é, com certeza, a mais fraca, mas não significa que não vale a pena a leitura e que você não vai se divertir, eu recomendaria a todos que queiram sempre mais um gostinho do mundo de Percy Jackson e os Olimpianos. No entanto, se as duas primeiras séries já supriram o seu desejo mitológico, não acho que As Provações de Apolo lhe farão falta. E que fique claro, eu estou no primeiro grupo.