Leila de Carvalho e Gonçalves 03/02/2020
Reversalismo
A Barata? é uma sátira política de autoria de Ian McEwan cujo tom remete a Jonathan Swift e seu ponto de partida é ?Metamorfose?, um clássico da literatura escrito por Franz Kafka.
Considerado como um conto longo, são apenas 103 páginas, o livro começa numa manhã, quando uma barata acorda depois de um sono inquieto e constata que não é mais uma barata... Tornara-se uma criatura gigantesca e monstruosa, um humano, e não se trata de qualquer humano mas de Jim Sams, Primeiro-Ministro do Reino Unido.
Apesar de McEwan afiançar que os nomes e personagens são produto de sua imaginação e qualquer semelhança com baratas reais, vivas ou mortas, é uma simples coincidência, fica claro para o leitor que a tal barata é uma projeção de Boris Johnson e a história é uma resposta literária para o dilema do Brexit. Por sinal, comecei a ler o conto em 31 de janeiro, dia que a Inglaterra saiu da União Europeia, fato que comprova a atualidade e o interesse que pode despertar a obra.
Entretanto, ?A Barata? não é apenas sobre um inseto transformado em Primeiro-Ministro. Também apresenta um governo que consegue convencer seus cidadãos de que a Inglaterra só voltará a ser a grande potência que foi no passado, caso adote uma doutrina econômica sem pé nem cabeça chamada ?Reversalismo?.
Sinteticamente, ela inverte o fluxo de dinheiro, logo quem trabalha, paga; quem gasta, ganha. Por exemplo: no final de uma semana de trabalho, o funcionário dá dinheiro à empresa por todas as horas que trabalhou, mas quando vai às compras, recebe uma quantia por cada item que leva.
Dividida em quatro capítulos e um Posfácio, a narrativa apresenta o desenrolar de um plano para aprovar essa medida. Ele conta com um Ministério aparentemente formado por outras baratas, uma população instável, sujeita a mídia digital e não digital, além do apoio de Archie Tupper, Presidente dos Estados Unidos, e da desaprovação de uma não nomeada Chanceler da Alemanha.
Se ficou curioso com o destino do Reversalismo e do ortóptero protagonista, adquira o livro, mas posso adiantar que o humor transcende qualquer reflexão mais séria aplicável à realidade. Afinal, como afirma McEwan: ?Se a razão não prevalece, talvez só nos reste o riso.?
Nota: Adquiri o e-book e recomendo.