Leonardo Bezerra 29/03/2022
"Maurice havia desaparecido por ali, sem deixar nenhum traço de sua presença, exceto um montículo de pétalas de prímulas noturnas, que jaziam no chão como um fogo agonizante. Até o fim de sua vida, Clive não soube dizer qual foi o momento exato da partida e, com a chegada da velhice, já não tinha certeza se o momento havia de fato ocorrido. O quarto azul cintilava, as samambaias ondulavam. De algum ponto de uma Cambridge eterna, seu amigo começou a acenar para ele, todo envolto pela luz solar e espalhando os eflúvios e os sons da primavera".
Maurice apresenta o retrato de um jovem gay no começo do século XX, trazendo todas as suas tristezas, medos e solidão. O que me encantou principalmente nesse livro foi a angústia do personagem em não só querer "se livrar" de algo que a ele foi ensinado que deveria ser condenável, mas também na constante busca sobre quem ele deveria ser e se algum dia seria amado.
Ao se ver sem o amor de sua vida, Maurice se enreda em caminhos internos sombrios, mas que o autor apresenta da forma mais leve possível. É a leveza para temas pesados e a fluidez da escrita que dão charme ao livro, além de suas passagens filosóficas e reflexões que não apenas dizem respeito à homossexualidade, como também a diversos outros aspectos da vida.
O livro relata o aprendizado de Maurice em uma época ainda mais sombria que hoje para a homossexualidade e é muito interessante como o autor não deixa explícito seu crescimento, mas o leitor vai percebendo com o passar das páginas. Muito interessante também como, apesar de ser narrado em terceira pessoa, entendemos o personagem e nos sentimos dentro da cabeça dele como se fosse em primeira.
Ágil, direto ao ponto e essencial, Maurice é uma excelente e angustiante leitura, daquelas que sempre te fisgam para continuar mesmo que você não saiba direito o motivo.