Miguel.Moreira 25/03/2022
Terra sonâmbula
Mia Couto é um escritor moçambicano que retrata momentos de guerra sob a perspectiva de pessoas simples. O livro não aborda explicitamente o cenário político de Moçambique pós-independência, mas há algumas informações históricas dentro desse romance.
É um livro que passa por diversos temas atuais, como racismo, abuso infantil, estupro, corrupção e acima de tudo, esperança de uma vida melhor.
A narrativa é divida em dois paralelos, onde há dois protagonistas, um chamado Muidinga, que está a fugir da guerra com seu parceiro de viagem Tuahir. O outro é Kindzu, o autor de um caderno achado por Muidinga em sua viagem, que aparentemente é um tanto mais velho que Muidinga, e estava em fuga da guerra.
No decorrer das narrativas, é possível visualizar a semelhança entre Muidinga e Kindzu, pois ambos estão em busca de uma vida melhor, e cheios de esperança e bondade em seus corações. Mas há uma peculiaridade nisso, pois Kindzu procura um futuro melhor, e anseia tempos que hão de vir, e Muidinga está obliviado se seu passado, não sabe quem foram seus pais, e nem mesmo se lembra de seu próprio nome, então sua busca é pelo passado em meio às brumas do esquecimento.
A escrita é extremamente poética e muito rica em vocabulário (para mim, que sou brasileiro, talvez um moçambicano ache tranquilo de ler), mas isso não quer dizer que seja um texto difícil, é uma leitura mais lenta para um romance, mas qualquer pessoa que tenha o hábito de ler se dará bem com o livro.
Acredito que o autor poderia abordar alguns temas culturais com um pouco mais de profundidade, como o estupro e o racismo entre a cultura que é descrita como tribal.
Apesar de um livro curto, a história é cheia de acontecimentos, o que nos obriga a ler o mais rápido possível para não se esquecer de nada.
É um livro muito bom, pela sua riqueza em retratar a vida de um fugitivo da guerra, acredito que seja exatamente assim ma vida real, claro que há diversos pontos fantasiosos e culturais, mas o principal foi feito com sucesso, que é um bom romance, com características históricas.