amandaleu 06/10/2023
Resenha de O Guarani
Escrita no século 19, a história se passa no século 17 no estado do Rio de Janeiro, onde fica localizada hoje a cidade de Campos dos Goytacazes, interior do Rio.
Peri, indígena goitacá, tem uma espécie de fascínio por Cecília, filha do figaldo Dom Antônio de Mariz. O irmão de Cecília, Dom Diogo, acaba matando uma indígena da tribo dos Aimorés, rivais da tribo de Peri. Para se vingarem da morte da moça, os Aimorés tentam matar Cecília, o que Peri não permitiria que acontecesse de forma alguma, já que Peri e Ceci têm uma relação muito forte de protetor e protegida. Por meio das paisagens brasileiras, dos povos que juntos nos deram origem e de algumas figuras históricas (Dom Antônio, por exemplo, que foi um dos fundadores do estado do Rio), José de Alencar traz aqui os fortes traços do Romantismo, movimento artístico que tinha como uma das principais funções a criação de uma identidade nacional.
É uma história que propõe muitos debates sobre a relação do branco com o indígena e, principalmente, dos autores da época com a tradição das tribos, seus vocabulários e costumes. Em muitas passagens pude perceber a figura de Peri embranquecida pela narrativa, de como o comportamento de seu povo deveria ser o de total submissão perante o homem branco, e de como eles deveriam ser agradecidos por estarem aprendendo sobre cultura e cristianismo. É óbvio que isso é um traço da época, mas que, se analisarmos com cuidado, podemos ver que ainda reverbera no Brasil de hoje.
Muitas frases que compartilhei aqui no Skoob mostram a surpresa dos personagens brancos com a forma com que Peri via e sentia as coisas, em como ele era sábio e como sabia se expressar de forma assertiva. Isso me lembrou uma fala de Conceição Evaristo, de como as pessoas ficam surpresas ao verem inteligência e delicadeza num determinado grupo excluído pela sociedade. Isso nos mostra que o saber não tem dono; para ser sábio, poeta e grande basta ser um ser.
Obs: Vale ressaltar que Carlos Gomes compôs O Guarani, ópera mais famosa do Brasil, porque ficou encantado com a história. Esta trilha sonora serviu de abertura para o programa de rádio "Voz do Brasil" (Em Brasília, às 19h).