Vilamarc 01/04/2019Laura Restrepo é mais que um Gabo de saiasPor que Sayonara fez as coisas que fez?
Com essa pergunta, a jornalista narradora de A noiva escura tece uma intrigante história da menina que se tornou a mais famosa prostituta de La Catunga, uma cidade-bordel no meio da selva amazônica colombiana e que servia de diversão aos petroleiros da Troco - Tropical Oil Company.
Narrado como uma investigação jornalística, em que diferentes depoentes são ouvidos em diferentes momentos, a trama vai se revelando, a partir das memórias de prostitutas, seus clientes, parentes, funcionários da cia. de petróleo, médicos e outros profissionais liberais.
O resultado é um verdadeiro tratado sobre a prostituição. Os motivos que levam as mulheres a esse universo, suas histórias particulares, seu agrupamento num bairro, os espacos de inserção, de convivência, sociabilidade e de trabalho. Suas famílias presentes e distantes, suas personagens performáticas, vestuário, perfumes, banhos, festejos, cuidados médicos, sobretudo ginecológicos dos quais são avessas, a espiritualidade, os laços afetivos e de solidariedade.
Em nenhum momento existe glamorização da vida na prostituição mas mostra-se sempre um charme por trás da vida boêmia e luxuriante de quem não tem muitas perspectivas numa Colômbia selvagem e esquecida, afastada dos grandes centros.
O conexto histórico é o da exploração dos trabalhadores nas plataformas petrolíferas em que sevestabelecem greves operárias, negociações e sequestros.
Muitos personagens são apresentados, todos aqueles que conviveram, se apaixoram por Sayonara e são testemunhas do triângulo amoroso entre ela, Sacramento, um amigo seu de infância e o jovem Payanés.
Sutilmente essa história se aproxima do realismo fantástico ao tecer as máquinas da plataforma petrolífera como mulheres pelas quais os homens se apaixonava, como a Magra Emília, ou nos animais todos de nome Felipe em casa de Todos Los Santos.