João Vitor 24/04/2021
MAIS UM FAVORITO DO ANO!
Na história vamos conhecer Amir, um garoto iraniano de 18 anos, gay e muçulmano que, atualmente, vive nos EUA com a família. Quando ele começa a ser chantageado por um bully no colégio e ameaçado de ter sua foto beijando outro menino mostrada para sua família, Amir se desespera e decide fugir. A princípio, o que era para ser apenas uma fuga para Nova York, acaba se estendendo até Roma.
Em Roma, ele descobre que pode viver sua vida como sempre quis, livre de qualquer amarra da sociedade pelo fato de ser gay. Lá ele faz amigos incríveis e é acolhido de uma forma que nunca vivenciou antes. Vamos então acompanhar as noites infindáveis nas ruas e bares da cidade, os rolês pelos pontos mais lindos de Roma e claro, várias aventuras (e até dates) com seu grupo de amigos.
Porém, escapar assim da vida antiga não é tão fácil. E já sabemos que algo acontece e que todos os membros da família de Amir estão numa sala de interrogatório policial no aeroporto. A história é contada em dois momentos alternados, um, sob a ótica do Amir, em Roma. E a outra, com depoimentos tanto dele como de sua irmã e seus pais, na sala de interrogatório.
Esse, inclusive, é um ponto super positivo do livro, porque conhecemos não só a visão dele, como de sua família. Conseguimos entender porque ele sentia tanto medo de se assumir, como ele lidava com esses dois desafios - ser gay E muçulmano. Mas também entendemos como sua irmã o olha e como seus pais vão lidar com isso. Fora que, essa alternância de capítulos cria uma certa tensão na história, porque a gente sabe que vai dar merda em algum momento, mas não sabe quando exatamente e como.
Dito isso, 5 pontos específicos me fizeram amar DEMAIS esse livro e favoritá-lo:
1. ROMA. Quem não queria pegar todas as suas coisas, fugir para Roma, lá fazer vários amigos e viver diversas aventuras e romances? Durante toda a história, nós conhecemos diversos pedaços de Roma junto do personagem, inclusive a maioria são lugares que os próprios locais vão para se divertir (por isso esqueçam os pontos turísticos clichezões) e isso me fez querer, a cada página, viver aquela história também. Passear pelos bairros de Pigneto e Trastevere (que, no caso, eu já fui e amei), sentar no bar Tiberino, na ilha Tiberina e curtir a paisagem, tomar um gelatto na Piazza Testaccio, visitar a Capela Sistina, frequentar o Garbo bar, etc. É uma imersão total.
2. O ITALIANO - Pegando esse gancho, outra coisa que me fez amar o livro foi um outro fator dessa imersão em Roma - o idioma. Desde quando o Amir chega, sem entender nada, ele já se depara com várias palavras e expressões que não faz ideia do que seja e aprender junto com ele esse vocabulário novo é super legal. Durante a história ele até tem aulas de italiano, de fato, então acaba sendo um ponto muito forte na história.
3. AS REFERÊNCIAS POP - O livro é recheado de referências pop, tanto antigas como novas. Os amigos que o Amir faz em Roma são todos mais velhos, na casa dos 30 anos, então é super divertido de ler esse encontro de "dois mundos". E como o Amir sabe tão pouco sobre a cultura pop mais antiga. É citado no livro várias vezes La Dolce Vitta, Cher, Scissor Sisters, assim como Taylor Swift, Hannah Montana, Ariana Grande, RuPaul's Drag Race, Mean Girls, etc.
4. RELIGIÃO ISLÂMICA - Esse é um ponto mais sutil do livro, contado nas entrelinhas (até pelo teor leve e fresco do livro), mas super importante e interessante. O próprio fato do Amir, várias vezes, se dividir entre sua "identidade gay" e sua "identidade muçulmana" é uma chave essencial na história. Ele, como iraniano e muçulmano, não consegue enxergar como os pais, tão tradicionais, iriam reagir se ele contasse que era gay. Então, é muito interessante ver, ao longo da história, durante os interrogatórios dos pais, como eles, ainda que muçulmanos, reagem a isso (e vão se desenvolvendo na narrativa). Além disso, outro ponto que se destacou muito pra mim, foi como os muçulmanos são tratados nos EUA, desde o início o próprio Amir já é zuado por algumas pessoas no colégio, com xingamentos ofensivos relacionados a isso, porém, é durante os interrogatórios que isso mais pegou pra mim. Principalmente durante os capítulos da mãe, é gritante a forma como a policial a trata, pelo simples fato dela ser muçulmana. Ela precisa se explicar em absolutamente tudo, desde o que ela posta no Instagram, até como ela se veste, para a policial não achar que ela é algum tipo de terrorista. Isso acontece com o pai também, que inclusive, já foi uma vez capturado por policiais no aeroporto ao ser confundido com um terrorista. Isso, como eu disse, é abordado nas entrelinhas, mas ainda assim, muito difícil de ler e não se revoltar.
5.O ROMANCE - Aos fãs do romance água com açúcar, esse NÃO é um livro de romance. O protagonista não desenvolve uma linda história de amor em Roma, a história vai muito além disso. Porém, conhecemos diversas outras histórias de amor no livro que são lindas. Temos o romance do Neil com o Francesco, que mostra a realidade de homens gays mais velhos noivando e se amando. Temos a do Giovanni com o Rocco, que é algo mais "moderno", porque é um relacionamento aberto, e temos alguns outros dates e cenas românticas que o próprio Amir se envolve durante a história, que é lindo de morrer e você fica querendo VIVER aquele romancezinho.
Enfim, Foi Assim Que Tudo Explodiu é um livro super leve, divertido e fácil de ler, que eu amei muito e já terminei querendo voltar para o início e ler tudo de novo. Recomendo DEMAIS. Já quero ler tudo do Arvin Ahmadi a partir de agora.
site: https://www.youtube.com/watch?v=PgRoJ0wfGCo