Che 18/07/2017
E DE EXCELÊNCIA
Segunda investida minha na bibliografia do escocês Grant Morrison, depois de desfrutar da muito boa "Grandes Astros: Superman", aqui mais uma vez em parceria com seu conterrâneo, o desenhista Frank Quitely.
Fico impressionado em como consegui gostar um bocado dos mutantes na nona arte, já que na sétima eu só consegui achar realmente acima da média o "Primeira Classe" e o mais recente "Logan". O resto, incluindo aí a trilogia antiga e os outros dois longas solo do Wolverine, variam entre mediano e completamente descartável.
"E de Extinção", o primeiro dos dois volumes da Salvat que ora resenho (li ambos numa tacada só, um logo após o outro), já é minha segunda HQ favorita dos mutantes, perdendo só para a Saga da Fênix Negra. O roteiro passeia com desenvoltura pelos personagens, com destaque para a ótima vilã Cassandra Nova, sendo a meu ver importante considerar a edição 117 (corretamente incluída no encadernado da Salvat) como parte fundamental e conclusão do arco, com ótimo 'cliffhanger' para o próximo arco, no qual - sem entrar em spoilers - o Fera e um mutante secundário chamado Bico vão passar por apuros de grande profundidade psicológica.
Mas antes disso, ainda tem muita coisa boa. A sutil travessia da arrogante e egoísta Emma Frost (uma das personagens mais surpreendentes e constantes nessa fase Morrison) até o Instituto Xavier; o conflito interior do Fera, complexado por ser mutante e com a própria aparência, que se controla pra não ser uma bomba-relógio emocional; toda a explicação de Cassandra sobre genética e evolucionismo, etc. E nem vou comentar sobre um certo genocídio na casa das dezenas de milhões, embora parcialmente antecipado no próprio título, que é pra não estragar a surpresa de quem não leu.
No outro volume da Salvat, na verdade há arcos além do "Imperial". Todos de roteiro bastante satisfatório, embora um pouco inferiores ao "E de Extinção". O arco inicial desse encadernado, com o lance da 'terceira espécie', é ótimo, há uma conotação muito proveitosa sobre a cooptação dos mutantes como fonte de lucro e visibilidade midiática. A lamentar, só que a ideia não foi ainda mais desenvolvida ali, já que rendia muito pano pra manga esse conflito entre os X-Men e o 'livre mercado' do 'transmutantismo'. Depois disso, segue bem por uma edição quase integralmente não-verbal (com a arte bela de Quitely) e o retorno de Cassandra Nova, às vezes um pouco caótico quando entram os momentos de ação com muitos personagens, mas de conclusão satisfatória.
O traço de Quitely é de cair o queixo no "E de Extinção", além de ter uma estética inconfundível e bastante autoral. Nos arcos do segundo volume da Salvat, ele vai alternando com outros artistas (felizmente todos de desempenho pelo menos satisfatório) e o próprio Quitely cai um pouco de nível na comparação com o primeiro volume, talvez porque tivesse que apressar a arte e detalhá-la menos.
De todo modo, uma grande leitura - mais uma com os mutantes, de quem eu nem esperava tanto até poucos meses atrás. O arco do "E de Extinção", em particular, recomendo com plena ênfase.
NOTAS:
E de Extinção - ★ ★ ★ ★ ½
Imperial - ★ ★ ★ ½