Mari 11/06/2021
Mais uma grande obra de Júlia Lopes de Almeida
Ok, "A Intrusa" não é "A Falência", mas ainda possui seus méritos. Diria que é uma mistura de "A Noviça Rebelde" com Agatha Christie e Jane Austen à la tupiniquim.
Argemiro é um advogado viúvo, que passou os últimos 9 anos de sua vida dedicado a sua viuvez e praticamente isolado da filha, Maria da Glória, que foi criada (ou melhor, mimada) pelos avós maternos. Mas, cansado da solidão, ele deseja passar mais tempo com a filha e, por isso, decide contratar uma governanta. Porém, para isso havia uma condição: A governanta nunca poderia ser vista por ele, porque ele jurou à sua esposa, famosa pelo ciúmes doentio, que nunca se casaria novamente, então ele não queria nem ser tentado por sua figura.
Somente uma moça responde a seu anúncio, Alice Galba, que passa a ser vítima dos ciúmes da baronesa, a sogra de Argemiro, que teme que ele se apaixone de novo, quebrando a promessa que fez a sua filha no seu leito de morte. Aos poucos, a moça vai conquistando todos ao seu redor, principalmente Argemiro, que não consegue mais ficar longe da atmosfera agradável que sua casa passou a ter. Porém, há muito mistério em cima dela, só descobrimos quem ela realmente é, no final do livro, graças ao Padre Assunção, melhor amigo de Argemiro e um dos melhores personagens do livro, que nesse momento dá uma de Hercule Poirot, ao nos contar o que queremos saber desde o começo. Outro mistério que fica até a última página para ser revelado é porquê Assunção se tornou padre.
Na resenha de "A Falência" falei que Júlia enfrentava os estereótipos de mulheres escritoras que existiam na época, ao falar de temas que na época não eram considerados "femininos", como economia e política. Isso se repete nesse, enquanto que em "A Falência", ela foca mais na economia, nesse, ela foca na política, o que só tornou ambos mais interessantes pra mim.
Outra parte que gostei bastante é a cena das regatas, onde ficamos sabendo como que as pessoas curtiam o esporte naquela época e também vemos a presença de velhos conhecidos nossos, o Flamengo e o Vasco da Gama, que antes de serem clubes de futebol, eram clubes de regatas. Infelizmente, ela não nos disse quem ganhou a competição, porque a leitora aqui é curiosa.
Assim como em "A Falência", as personagens femininas são sensacionais, densas e complexas, destaco: A baronesa, que é detestável por causa dos seus ciúmes que quase acabam com a felicidade de todos ao seu redor, mas ao mesmo tempo, temos pena dela, pois desde que a filha morreu, ela morreu também, vivendo somente para preservar a memória da falecida; a Pedrosa, esposa ambiciosa de um ministro da República, que foi a responsável por transformá-lo num grande político e que deseja que a filha se case com Argemiro; Sinhá, filha de Pedrosa, que enfrenta as vontades da mãe ao não aceitar ser vendida a um homem mais velho, para seus pais terem mais influência, porque quer se casar por amor; e, a própria Alice, que parece ser uma moça frágil, mas quando precisa se defender, se impõe e não tem medo e nem vergonha de trabalhar.
Enfim, mais um grande acerto dessa escritora fabulosa que por tantos anos foi injustamente esquecida!