A Máquina de Fazer Espanhóis

A Máquina de Fazer Espanhóis Valter Hugo Mãe




Resenhas - A Máquina de Fazer Espanhóis


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Betodepoa 21/09/2022

A Máquina de Fazer Espanhóis
Recomendo começar a leitura de “A Máquina de Fazer Espanhóis” (Biblioteca Azul, 2016) pelo prefácio do Velosão, que destaca -e o faz muito bem- aspectos relevantes da obra. Destaca, por exemplo, a forma peculiar com que Mãe escreve, banindo as maiúsculas do texto e deixando exclamações e interrogações à interpretação do leitor. Fala também sobre as referências do livro à história política e social de Portugal que permeiam toda a história -da opressão política da ditadura de Salazar nos anos 70 ao sentimento de estranheza dos portugueses no seio da atual Comunidade Europeia- tudo isto dentro de uma “fábula de amor sincero e melancolia histórica (e biológica) que move este livro”, diz Caetano.

Após a morte da esposa, o personagem principal, António Jorge da Silva, é colocado pelos filhos em uma casa de repouso. Tolhido de decidir sobre a própria vida e extremamente inconformado com a perda da companheira de quarenta e oito anos de casamento, António chega ao “Lar da Feliz Idade” casmurro e agressivo. Aos oitenta e poucos anos, a desilusão com a vida e o vislumbre da implacável decrepitude da velhice o fazem desejar a morte como uma forma de justiça a livrá-lo de um legado humilhante.

Com o tempo, o sr. Silva (assim António era chamado no asilo) vai se amansando, faz algumas amizades interessantes, acostuma-se à rotina, empreende algumas traquinadas com seus companheiros de Feliz Idade e, nisto tudo, descobre até alguns deleites. As saudades da esposa Laura não passam, mas a revolta dá lugar, gradualmente, à melancolia e à fria constatação de que a vida vai mesmo se esfarelando dia após dia. Sobre isto, na página 139, o seu amigo Esteves diz o seguinte:

“digam-me se não é a violência na terceira idade. isto é violência na terceira idade. sabem por quê, porque o nosso inimigo é o corpo. porque o corpo é que nos ataca. estamos finalmente perante o mais terrível dos animais, o nosso próprio bicho, o bicho que somos. que decide que é chegado o momento de começar a desligar-nos os sentidos e decide como e quando devemos padecer de que tipo de dor ou loucura. [...] ser-se velho é viver contra o corpo.”

Neste compasso, António segue remoendo a sua existência e as suas escolhas, anotando culpas e desculpas; aos poucos, vai se enternecendo e também se fragilizando. Assim, segue até o fim da história.

Com muita “metafísica” e um senso de humor afiado e direto, Mãe nos declama a sua poesia da vida e faz com que nos aninhemos nesta história até quase esquecermos da desgraça que é envelhecer, até normalizarmos e acharmos razoavelmente aprazível aquela realidade triste. Mãe também coloca na boca dos seus personagens um tom de desgosto e decepção consigo mesmos, como povo, ao refletirem sobre o seu passado fascista nos tempos de Salazar. É, ainda, forte o sentimento de inferioridade: percebe-se que eles se sentem como se fossem filhos alongados, adotados pelo primeiro mundo, mas, obrigados a viver num país de terceiro mundo, invejando o vizinho espanhol -as suas casas, os seus salários e o seu território mais imponente.

O livro não quer falar da descoberta de “[...] uma nova possibilidade de existência. Como a flor que fura o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio [...]", como se lê na contracapa desta edição. O livro diz mais sobre o encontrar desesperado de uma mão trêmula para segurarmos na beira do abismo, sobre o alento que é descobrir-se acompanhado e amparado na escuridão fria. O autor não fala de esperança, fala de angústia, finitude e consolo.

Quanto ao estilo de Valter Hugo Mãe escrever (estilo inaugurado por José Saramago), devo dizer que, a mim, não trouxe acréscimos quanto à fluência do texto, tão propalada por Caetano Veloso no seu prefácio, ao contrário. Eu gosto mesmo é de ser interrompido por um novo parágrafo que, de preferência, comece com uma letra maiúscula; gosto de ver travessões nos diálogos e sinais de exclamação e interrogação dando “entonação” a eles. Algumas vezes tive que voltar linhas atrás para perceber quem estava falando e se estava perguntando ou simplesmente afirmando, mas acabei me acostumando. De resto, o livro é ótimo!



site: opinandosobrelivrosefilmes.opinandosobretudo.com
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lu.sampaio 05/09/2022

VHM destrói corações
VHM gosta de te tirar da zona de conforto. É o segundo livro dele que eu leio e já percebo isso. Seja pela falta de parágrafos, pontuação, letras maiúsculas, seja pelas temáticas de seus textos.
Nesse livro o autor trata do processo de envelhecimento, o que se passa na cabeça de uma pessoa idosa em um ambiente de idosos no qual ela sabe que só vai sair em forma de ?alma?? isso se alma existir, já que é um dos questionamentos da personagem principal.
As reflexões propostas por cada personalidade nesse livro cria por vezes uma situação de muita reflexão (chorei confesso), mas muito cômica também em certos momentos.
Recomendo sim óbvio, mas ao mesmo tempo existe uma massa de sentimentos que vêm atrelado à essa leitura, então acho que depende bastante do estado emocional de cada leitor. De qualquer forma, é uma obra lindíssima e obras lindíssimas geram comoção kkkkkk.
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Mc Brendinha Carvalhão 28/08/2022

E que venham mais livro de VHM
Foi minha segunda leitura de Valter Hugo Mãe, o primeiro dele que li foi A desumanização, que amei, achei perfeito e talvez por isso tenha ido com muita expectativa para esse outro, que gostei, mas não tanto, ainda assim me emocionei, lembrei muitas vezes de meu avô e refleti sobre como será a minha própria velhice. Vale a pena.
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tbbrgs 11/08/2022

Valter Hugo Mãe sabe as manhas de ser um escritor
Em A máquina de fazer espanhóis, o personagem principal, o barbeiro António Jorge da Silva, de 84 anos, perde a mulher com quem conviveu por cinquenta anos e passa a morar no Lar da Feliz Idade. Valter Hugo Mãe desenvolveu brilhantemente, neste romance, os traços e a evolução desse personagem, desde os primeiros capítulos, quando ele ainda está lidando com o luto, casmurro, solitário e egoísta, aos seus episódios finais, onde ele passa a ter que se defrontar com sua própria mortalidade, ao mesmo tempo em que observa as vidas (ou seriam as mortes???) de seus colegas que também vivem no lar. Defronte de sua mortalidade, António Jorge da Silva, ou o "colega Silva", como é chamado por seus amigos do lar, começa a se sentir frágil e impotente. Perde suas parcas crenças religiosas, se vê abalado ao perceber que não há mais nada para que possa sustentar-se e que, depois de sua morte, ele simplesmente retornará ao pó, sete palmos abaixo da terra, sendo carcomido pelos vermes. A consciência deste fato, junto da proximidade cada vez mais iminente de sua própria morte, deixa-o cada vez mais depressivo e debilitado, o que o faz ter pesadelos que terminam em acontecimentos impensáveis. Grande parte das ações do protagonista parecem ser justificadas pelo nível de debilidade psicológica e emocional em que ele se encontra. Mas há também, no decorrer da história, muitas discussões acaloradas entre o grupo principal de amigos acerca de temas como a pátria, a religião, a política, a família e a passagem do tempo, muitas das quais ressoam ainda na minha memória e me fazem questionar e criticar um ou outro ponto. Além disso, senti falta de alguma personagem feminina marcante, que não estivesse ali para sofrer, para morrer, para ser alvo de piada ou pano de fundo. A súbita aparição da Dona Glória do Linho, nas trinta páginas finais da história, foi forçada demais para ser considerada, ao mesmo tempo em que o Esteves foi provavelmente um dos melhores personagens já criados (ou, melhor dizendo, recriados). Enfim, esse livro tem erros e tem acertos. As próprias contradições nas quais o personagem principal entra enriquecem a narrativa, pois mostram como o personagem evolui, muda de ideia, para logo depois desdizer o que antes havia dito. Isso realmente mostra um primor estilístico, narrativo e linguístico por parte do autor, pois as contradições são acima de tudo humanas. Valter Hugo Mãe sabe as manhas de ser um escritor.
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Luiza Carvalho 08/08/2022

que livro lindoooo, meu deus, tô apaixonada
eu amei a forma q o silva fala da laura, é lindo, n tem outra palavra

pra começar que já começa com uma "metáfora" (n sei se essa é a melhor palavra, mas enfim) sobre ter vários silvas e pessoas iguais, já me deixou mal kkkkk
além disso, a forma que foi retratado o passado do silva, sobre o que aconteceu durante o período de Salazar em Portugal, é algo tão pesado mas que foi retratado de uma forma impecável, me pegou de jeito essa parte
sem palavras pro final, apesar de triste tudo se encaixou perfeitamente

achei genial a forma de escrita, por ser por fluxo de pensamento deu um ritmo muito bom pra leitura e eu adorei
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Mariana 22/07/2022

A dureza de envelhecer
O livro conta a história de Antônio da Silva, um idoso que após a perda da esposa Laura, passa a residir em uma casa de repouso chamada Feliz Idade. A obra retrata as reflexões do personagem sobre seu processo de luto, de envelhecimento e suas respectivas perdas (de independência, de vínculos, de capacidades físicas e mentais), além de reflexões também sobre sua história de vida, seu passado e ligações com o contexto político português, e sobre as novas relações construídas dentro do seu novo lar. As partes que mais me impactaram foram aquelas referentes ao sofrimento da perda da esposa, ao relacionamento com a filha e ao fato dela tê-lo levado para a residência, e ao relacionamento do personagem com os funcionários doutor Bernardo e o cuidador Américo, os quais construíram vínculos e afeto entre si. O livro trágico aos poucos vai se tornando cômico, ao retratar o dia a dia da casa e alguns comportamentos bizarros do personagem.
A escrita do autor, no entanto, possui um estilo o qual não estou acostumada e, por isso, em alguns momentos foi difícil acompanhar, seja pela falta de letras maíusculas, parágrafos, recuos, entre outros exemplos. Porém, conforme dito, as reflexões que me impactaram foram sobre o envelhecimento, perdas e afetividades. Bom!
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oiamandah 15/07/2022

A morte assusta...
Esse é meu terceiro VHM. Confesso que em alguns pontos achei a leitura um pouco mais lenta e arrastada em comparação com os outros que li, poremmm, o autor tem uma escrita maravilhosa demais. Poética, delicada...fico apaixonada!

Em A Máquina de fazer espanhóis, vamos acompanhar Antônio Jorge da Silva em um casa para idosos, junto com outros idosos e o fantasma da morte.

Vemos como o morrer assusta, como é angustiante sentir que há um "pássaro negro" rondando e esperando a próxima vítima. Como a morte assombra mesmo quem já "viveu demais" mas espera viver mais coisas.

É lindíssimo, profundo, com passagens belíssimas! Sigo amando a escrita do autor
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gi leite 13/07/2022

Nesse livro, Valter Hugo Mãe aborda a solidão, medo e todos sentimentos conflitantes que podem acompanhar o ser durante a velhice, em especial na vivência em um asilo. Ao mesmo tempo, Valter Hugo não cansa de trazer, junto à angústia, a esperança, o que é uma característica marcante do autor. As amizades construidas pelo senhor Silva durante o livro marcam e trazem uma certa leveza para o livro ao mesmo tempo que não deixam de serem profundas e nos fazerem refletir. Além disso, o livro traz profundos pensamentos acerca do fascismo português, da condição submissa do país à união europeia e até ao desejo de retornarem a serem parte do reino espanhol. Uma travessia pela história e sentimento português unida a velhice e as dores e alegrias que acompanham essa fase.
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mclaport 26/06/2022

Simplesmente Valter Hugo Mãe
O que esse homem é capaz de fazer com as palavras é um presente. Foi o único livro que já me fez chorar. Lindo, lindo.
Um olhar realista e poético sobre a velhice e tudo que ela traz, recomendo de olhos fechados.

Lido em: 01/2021
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Yentl 18/06/2022

Relatos da velhice por Silva
Gostei das partes que pude aprender com Silva sobre a velhice e os sentimentos conflitantes que ela lhe trouxe. Acredito que algumas partes do livro não me acrescentaram por não ter a vivência necessária para entender os pormenores (questões políticas).
O balanço final é positivo!
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Thaís 06/06/2022

A máquina de fazer espanhóis
O livro traz diversas reflexoes sobre a velhice.
É escrito com uma autenticidade ímpar do VHM. Aquele tipo de livro que eu facilmente leria outra vez, em outro momento na vida e idade.
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Vic 26/05/2022

A maquina de roubar a metafísica dos homens
Livro incrível! Valter Hugo sempre impressionando com suas narrativas extremamente sensíveis e até mesmo palpáveis!
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Vinder 14/05/2022

Talvez o melhor livro que tenha lido di Valter Hugo Mãe. Nao gostei do último que ele lançou. Esse consegue ser sensível, mas com humor. E um tema tão importante, o envelhecimento.
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Gabriela.Frossard 09/05/2022

meu primeiro "valter hugo mãe"
li no ritmo de sentir cada um dos capítulos. a máquina de fazer espanhóis (e cada um dos personagens) são como um reencontro, desses que chamam a gente pro abraço. essa edição é uma coisa linda... das ilustrações ao uso das minúsculas por todo correr da leitura. termino entre a paixão e a angústia, com o livro e, também, com a vida.
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