Danielle 14/06/2011
Tire o L de Lee.
Senta, vai demorar.
Outro dia fiz uma resenha para a pós graduação. A resenha tinha como base um artigo. O artigo falava sobre uma das obras de um renomado escritor norte-americano chamado Don DeLillo. A obra em questão era The Falling Man. Fiquei curiosa, nunca tinha ouvido falar de Don DeLillo, fiquei com muita vontade de ler The Falling Man que tem como pano de fundo o 11 de setembro.
Fui pesquisar sobre DeLillo, esse novaiorquino nascido em 1936 que é conhecido por fazer, nas suas obras, um retrato da sociedade norte-americana nem sempre bonito de se ver. Ok. Obras? Muitas, entre elas Libra.
Don DeLillo confessou em certa entrevista que, não fosse o assassinato de Kennedy em 1963, muito provavelmente ele não teria se tornado escritor. Meu mundo caiu. É isso mesmo, pensei. É isso!
Libra (1988) conta a história de Lee H. Oswald, o suposto assassino solitário de JFK. DeLillo pegou as pontas soltas daquele 22 de novembro de 1963, aquelas três (três?) balas vindas do sexto andar do Texas School Book Depository. Pegou a figura enigmática que foi Lee Oswald que era, ou não, marxista. Foi pra Rússia em plena Guerra Fria, volta para os Estados Unidos com ajuda do governo. Ex-marine, pobre, libriano. Libra, o signo da balança que ora pende para um lado. Ora pende para outro.
Esqueci The Falling Man, queria ler Libra antes de tudo. Comprar? Não, esgotado. Porra.
Até que.
Ele foi a um supermercado (supermercado!), na prateleira de livros. Ele liga pra mim. Tava lá. O livro, por 9,90. Assim, dando bobeira. Fui um dia antes, vi a mesma prateleira, não tinha nada. Comprei, é seu.
A edição da Rocco é de 1995. As folhas amareladas nas pontas, a capa esgaçada. O livro, por si só, já conta uma história. Gosto de pensar que esse exemplar atravessou o tempo (16 anos!) só pra chegar na minha mão. Gosto mesmo de pensar assim.
O livro ultrapassa as 400 páginas: li no ônibus, li na mesa do café, li no intervalo do trabalho, das aulas, li até adormecer. Risquei, fiz apontamentos, grifei partes, ri sozinha, escondi umas lágrimas. Terminei ontem, o sol já forçando a janela, tremendo por dentro. Um dos livros da minha vida.
DeLillo escreve que é uma maravilha. Coloca personagens reais em situações imaginadas. DeLillo estudou o assassinato, de longe se percebe. Ele faz desse desconhecido que foi Lee Harvey Oswald algo tão real que, em alguns momentos, pensei que podia tocar nele. Dar uma tapa na cara dele. Dizer, abre o olho. Sofri junto com Lee, tive pena e o odiei. Isso aí é literatura.
Já falei aqui que um dos meus sonhos era o de escrever sobre Lee. Escrever o quê? DeLillo já disse tudo. E disse da maneira mais perfeita que se pode dizer.
Bom pra todos nós, assim.
Podem me queimar numa fogueira, o trabalho foi feito. Desisto.