Sarah 27/06/2014Biografia - SaramagoEu sou grande fã de Saramago. Seu estilo de escrita único e inconfundível me conquistaram desde a primeira leitura, ainda na adolescência, quando me deparei com Memorial do Convento. Desde então, coleciono suas obras e fiz dele um de meus escritores favoritos.
Eu tinha grande expectativa por ler esta biografia. Além de ser fã do biografado, eu achava que poderia conhecer um pouco mais de sua vida, de suas motivações para começar a escrever, de suas inspirações. Infelizmente, o livro me decepcionou um pouco.
O início é interessante, pois conta um pouco da infância e dos primeiros anos de Saramago na escola. Conta de sua vida simples e pobre, seus primeiros empregos, a mudança para uma escola técnica por não poder mais arcar com os custos do Liceu. Destaque também para a morte de seu irmão mais velho, ainda criança, e para a importância que essa perda exerceu em Saramago.
Em seguida, com um Saramago já adulto, começam suas incursões oficiais pelo mundo das letras. Ele escreve artigos e peças, faz traduções, trabalha em editora. Mas uma boa parte do livro detalha o lado político de Saramago. Discussões, brigas e desafetos em meio a um mundo então dividido entre comunistas, fascistas e outros termos das épocas de guerras. O autor escreve inclusive sobre a política mundial, não apenas de Portugal e relativa ao biografado. O que poderia ser um ponto interessante para situar o momento da vida em que Saramago se encontrava o acabou por deixar o livro, em grande parte, cansativo e enfadonho.
Outro ponto de destaque foi quando passou a falar das obras. O autor destacou os rascunhos e as primeiras ideias que levaram a vários livros famosos de Saramago, narrando ainda alguns momentos pessoais que interferiram em alguns momentos - como a pneumonia que o fez adoecer e interromper a escrita de A Viagem do Elefante. Esses pontos enriqueceram a biografia. Porém, uma questão negativa foi que, para discorrer sobre algumas obras, o autor contou toda a história, até mesmo o final. E como eu ainda não li todas as obras de Saramago, não gostei de já saber previamente até o final de algumas delas.
Por fim, o ponto mais esperado e meu preferido do livro é quando Saramago conta como criou seu estilo inconfundível. Ou melhor, como o estilo simplesmente surgiu:
"O que não queria era repetir algo que de alguma forma pudesse estar já feito, de modo que estive três anos sem saber como resolver este problema. (...) chegou 1979 e continuava sem saber como começar, mas o tempo estava a passar e como queria escrever o livro, sentei-me a trabalhar. Fi-lo sem sequer saber o que queria dizer (...) Então comecei a escrever como toda gente faz, com guião, com diálogos, com a pontuação convencional, seguindo a norma dos escritores. Quando ia na página 24 ou 25, e talvez esta seja uma das coisas mais bonitas que me aconteceram desde que estou a escrever, sem o ter pensado, quase sem me dar conta, começo a escrever assim: interligando, interunindo o discurso direto e o discurso indireto, saltando por cima de todas as regras sintáticas ou sobre muitas delas. O caso é que quando cheguei ao final não tive outro remédio senão voltar ao princípio para pôr as 24 páginas de acordo com as outras." (pg 94-95)
Para concluir, achei que o livro deixou a desejar em vista da riqueza que se poderia extrair do biografado. Não que eu esperasse que o autor escrevesse como Saramago, claro que não. Mas achei que fosse ler mais sobre suas inspirações e motivações. Mesmo sendo conhecido por ser reservado em relação à sua vida pessoal, imaginei que esse trabalho de biografia fosse conseguir explorar um pouco mais sobre esse grande autor que já nos deixou.