Estatutos do homem

Estatutos do homem Thiago de Mello




Resenhas - Estatutos do homem


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Érika 20/01/2022

Que poema, senhoras e senhores, que poema!
Lamento só ter conhecido Thiago de Mello após sua morte recente, em 14/01/2022. Mas que seja: a fama que aumenta pós-morte não é destino estranho para o escritor, e talvez responda à ambição secreta de muitos pela imortalidade.
A questão é que, assim que conheci, gostei. Os primeiros poemas com que tive contato eram todos crivados de esperança, essa que – como já comentei com alguns amigos – considero ser a característica distintiva da literatura brasileira. Talvez porque a vida do nosso povo careça dela mais do que a de qualquer outro.
Então, quando fui à biblioteca outro dia, tratei de ver se não havia algum livro do autor por lá. Encontrei seu primeiro livro, Silêncio e palavra, e também este aqui, que na verdade é uma edição comemorativa, produzida pelo governo do Amazonas, do poema mais famoso desse poeta amazonense: Estatutos do homem, originalmente publicado no livro Faz escuro, mas eu canto (1965).
O livrinho é lindo e interessante. É trilíngue, com traduções para o inglês e para o espanhol (essa, de Pablo Neruda), ilustrado com quadros famosos e conta com alguns textos de acompanhamento e imagens falando sobre o autor, a obra, suas traduções (até para o persa) e adaptações.
Até o encarte com o trecho de um depoimento do autor sobre sua vida é bom de ler — sobre as influências poéticas dele, sobre a decisão de trocar a carreira de medicina pela literatura, sobre como Drummond tentou dissuadi-lo, mas depois deu sua benção.
Nada, porém, distrai do poema-conteúdo, escrito em forma de lei, talvez, para afrontar o regime ditatorial que acabava de tomar conta do país e, por lei ilegítima, tentava sufocá-lo. Em catorze “artigos”, os Estatutos do homem regulamentam uma sociedade perfeita onde reinam a verdade, a liberdade, o amor. Sociedade que, o autor teima em insistir, está no futuro e depende de nós.
Esse poema é muito famoso e aposto que pode ser encontrado na internet. Recomendo a leitura a todo mundo, hoje mesmo, até. Se alguém tiver acesso a esse exemplar em específico, recomendo também, pelo conteúdo extra. Por ora, deixo apenas um artigo, para dar o gostinho. Foi difícil escolher qual, mas penso que este é meu favorito:

“Artigo 5

Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.”
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