spoiler visualizarGustavo 04/01/2012
Homem animal
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Antonio Di Benedetto foi contemporâneo de Borges e Cortázar. A sua obra surgiu pouco antes do boom literário latino-americano, ocorrido por força do realismo mágico de Garcia Márquez. No entanto, ele não se encaixa com comodidade em nenhuma escola literária, e isto demonstra a grande capacidade do autor. Ele oscila entre múltiplos temas e cenários diferentes, mas parece um estrangeiro em todos eles. De tanto enxergar o diferencial que rodeia a realidade, o narrador não está confortável em nenhum lugar, seja na vastidão do campo, seja na solidão de um quarto escuro. De comum nas suas histórias, o traço humano. Na primeira parte do livro, os homens se misturam com os animais: insetos passam a viver dentro de um homem que tentou trazer a beleza para o seu interior ao ingerir uma borboleta (“Borboletas de Koch”, título deveras instigante, fazendo parte da história ao insinuar a tuberculose do narrador); um rato bestial rói as recordações deixadas por um pai (“Amigo inimigo”, com um singular paralelo formado com “O Flautista de Hamelin”); um menino que cria, na própria cabeça, um ninho para os pássaros (“Ninho nos ossos”). Existem momentos de puro terror, como a mãe que perde o nenê tão aguardado e mata uma gata prenha a chutes (“Trocas com a morte”), ou fantasmagóricos, como o menino proprietário de um cachorro que mora nos sonhos (“Reduzido”). Em todos os contos, Benedetto se destaca pela linguagem comum, simples, mas que esconde universos de significados. É mágico o alcance que ele dá para as palavras: as frases possuem significados ocultos, assim como a construção que ele fornece é realmente poética, repleta de simbolismo. Cada conto é um soco, e fica na memória muito tempo depois da leitura.
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A resenha completa está em: http://wp.me/p24M2p-Y