Natasha.Louredo 07/11/2023
Infelizmente Ainda Bem Atual
"Agosto" escrito por Rubem Fonseca e publicado em 1990, é um romance policial que mergulha no complexo cenário que combina realidade histórica e ficção de maneira magistral. O autor desafia as fronteiras entre esses dois mundos, transportando-nos para agosto de 1954, um período crítico na história do Brasil, marcado pelo suicídio do então presidente Getúlio Vargas, em meio a uma crise política e social.
Fonseca tece uma trama rica e multifacetada, na qual a História do Brasil não é apenas um pano de fundo, mas um elemento fundamental para a narrativa. Os personagens históricos, como Getúlio Vargas, seu irmão Benjamim, a filha Alzira, o controverso tenente Gregório Fortunato e outros, são transformados em protagonistas do próprio romance, ganhando voz e profundidade.
O autor demonstra sua maestria ao criar diálogos, ações e pensamentos para esses personagens históricos, tornando-os tão vívidos quanto os personagens fictícios. Através de uma narrativa habilmente construída, nos transportamos para o epicentro dos eventos que culminaram no suicídio de Getúlio Vargas, explorando suas dúvidas, dramas e complexidades, e ao mesmo tempo, oferecendo uma visão única e envolvente da política e dos bastidores do poder na época.
No entanto, o coração do romance reside no personagem central, o comissário Alberto Matos. Enquanto o pano de fundo histórico se desenrola, Matos assume o papel de investigador, desvendando um intrigante mistério que se entrelaça com os eventos políticos da época. Sua busca pela verdade o leva a mergulhar nas entranhas de uma sociedade corrupta e cheia de segredos, proporcionando ao leitor uma perspectiva inebriante do submundo carioca.
O desfecho da história do comissário Alberto Matos, é impactante e profundo, deixando o leitor com um sentimento de tristeza e desesperança em relação à vida e à política do país. À medida que o romance avança, o comissário se torna uma figura trágica, envolvido em uma teia de corrupção e traição que parece intransponível. Sua busca implacável pela verdade, que o leva a enfrentar os poderosos e os corruptos, o leva a um destino cruel.
Rubem Fonseca com sua prosa afiada, lança um olhar crítico e sombrio sobre a sociedade brasileira da época, e ao fazê-lo, nos força a refletir sobre as semelhanças com o presente. "Agosto" é, portanto, mais do que um romance policial brilhantemente construído; é uma obra que nos confronta com as sombras da política e da condição humana, deixando-nos com uma sensação de desesperança, mas também com a necessidade urgente de repensar e transformar nossa sociedade. É uma leitura que nos desafia e nos move, reforçando o poder da literatura em provocar reflexões profundas e necessárias.