Não me espere para jantar

Não me espere para jantar Carol Sanches




Resenhas - Não ne espere para jantar


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Di 26/10/2020

As poesias remontam memórias e sensações do cotidiano de forma que o leitor as toma pra si e as experimenta como se fossem suas próprias experiências. Habilidade com as palavras é pouco para descrever a obra da Carol Sanches.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 15/01/2020

Carol Sanches - Não me espere para jantar
Editora Patuá - 120 Páginas - Ilustração, Projeto gráfico e Diagramação: Leonardo Mathias - Lançamento: 2019.

A poesia de Carol Sanches é inspirada pelas múltiplas expressões do universo feminino e, nas cinco partes em que se divide o livro: o ipê lá de casa, um ovário a menos, yo soy el arma de fuego, do tempo do lambari e dois minutos, encontramos versos sobre a mulher que também é, ao mesmo tempo, menina, mãe e amante. A poeta define de forma verdadeira e surpreende o leitor quando afirma: "há muita lógica para explicar os desajustes da chama ou da fisiologia feminina", ou ainda: "o tempo de um homem não é o tempo de uma mulher", como bem sabemos.

Nesta diversidade de abordagens há espaço para a fragilidade e a coragem, para a intimidade e a revelação, como resume muito bem Camila Assad no prefácio sobre o estilo da autora: "[...] Aborda sem clichês e medos questões de gênero e papeis sociais. Revela valentia e fragilidades. Com um ovário a menos e sensibilidade de sobra, Carol experimenta sem hesitação uma linguagem potente, constrói imagens ao mesmo tempo doces e insólitas, olha para a natureza e para a cidade buscando as coisas que estão por trás das coisas". Na primeira parte, o ipê lá de casa, fica flagrante o contraste entre natureza e cidade, público e privado.

O ipê lá de casa
acordou rosa
assim acordaram todos os outros ipês
de todos os outros quarteirões
lá de casa

A poeta não esconde que é vulnerável, "inflada de opostos / dos céus e da terra / de oitos e oitentas", contudo em yo soy el arma de fuego encontramos os versos abaixo, uma rica coleção de imagens sensuais e verdadeiras, que explodem em força e beleza, o leitor não tem outra alternativa que não seja entrar no ritmo do poema e se descobrir em um "perplexo estado de gerúndio", bonito não é mesmo? Vale a pena conhecer o universo de Carol Sanches.

Só de te ver assim
passando por mim
minhas partes se recolhem
apertando os lábios
guardando-me em carne
segredos úmidos
num perplexo estado de gerúndio

só de te ver assim
passando por mim
comprimo o desejo como quem
(prende o ar e)
estufa por dentro
embolando infinitos nós por todo o meu
corpo inteiro
ativando a bomba num tic tac de-quem-aguarda-ser
desarmada

só de te ver assim, passando por
mim
me entra até enxame de abelhas africanas
enquanto vou pedindo rogando implorando
que me enxague as picadas
numa marola demorada que vai do atlântico
ao pacífico sul

daí me perco
nas voltas de mim e da terra
vou-me dando em manobras
durante a pele
aguando em meus poros côncavos
os carinhos de mim
vou hasta el fin da fronteira da areia
com o mar das minhas correntezas
translúcidas
só de te ver assim
passando por mim

Sobre a autora: Carol Sanches nasceu em Campinas em 5 de agosto de 1981. Formada em publicidade e propaganda, pela ESPM, possui pós-graduação em Poéticas Verbais, pela USP. Atualmente trabalha com redação e produção de conteúdo para agências de comunicação. Tem poemas publicados em revistas digitais como Gueto, Mallarmargens, Ruído Manifesto, Literatura e Fechadura, além de ter participado da Antologia Poética do Prêmio Sarau Brasil 2018. É autora dos livros independentes Poesias pormenores (2018) e Toda diva tem divã (2009). O livro Não me espere para jantar recebeu menção honrosa no Prêmio Maraã de Poesia 2018.
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