spoiler visualizaredzlke 11/09/2023
Liberdade ou solidão? (kk)
O Falecido Mattia Pascal iniciou-se com uma tirada excelente. Lembrei-me de Memórias Póstumas de Brás Cubas e me posicionei na cadeira para uma leitura que parecia promissora. Mas não fiquei muito tempo sentada nessa cadeira lendo, não.
Ao que tudo indica, o bom humor de Pirandello, ou sua criatividade para piadas ácidas e inteligentes, foi só até os primeiros capítulos.
Mattia Pascal é um homem arruinado financeira e emocionalmente. Após a fortuna de sua família e a fazenda que possuíam serem usurpadas e postas a perder por um mau administrador, Mattia, após uma juventude regada a muita diversão e inconsequência, se vê devendo a Deus e ao mundo.
Uma série de presepadas e armações o levam a casar-se com uma mulher que rapidamente passa a detestá-lo, juntamente com sua sogra. O clima familiar é dos piores e, após a morte dos filhos recém nascidos, Mattia Pascal rompe de casa e assume os riscos dos jogos de azar.
Ou, nesse caso, diríamos jogos de sorte, pois em alguma coisa nosso protagonista tinha que ter sorte naquela vida.
Transcorridos alguns momentos de deleite com tanto dinheiro no bolso, Mattia depara-se com a notícia no jornal de que havia morrido afogado! Acontece que afogara-se um homem qualquer e sua esposa e sogra haviam reconhecido naquele desconhecido o rosto do genro e marido desaparecido.
O protagonista decide então aproveitar-se de sua morte e construir para si próprio uma nova vida de liberdade ilimitada.
No entanto, a filosofia de Pirandello logo assume o lugar do enredo fluido e das tiradas irônicas nas páginas seguintes. Mattia vê-se mais solitário e triste do que quando estava amarrado àquela família que o repudiava.
A partir de então, o livro perde-se um pouco de sua história original. Filosofia, religião e misticismo tomam espaço e transfiguram-se em capítulos arrastados que pouco contribuem para a história desse homem.
Apesar de tudo, é um bom livro para refletir a cerca dos limites da liberdade de um homem, seja ela emocional ou cívica.