Lucas.Sampaio 23/11/2020
Hilda em prosa
Após 20 anos dedicados à poesia, a prosa de Hilda Hilst surge em 1970, com o livro Fluxo-floema (1970), em pleno Golpe Militar, poucos anos após um dos maiores infortúnios institucionais do Brasil, o AI-5 (Ato Institucional número Cinco), responsável pela censura de obras, músicas, teatro, cinema, e da imprensa, dentre outras mídias em geral. Por isso, era bastante apropriado se produzir nessa época uma das prosas mais polêmicas e libertárias da literatura brasileira, tanto nos temas, quanto na linguagem utilizada.
É inegável que a escrita de Hilda foi revolucionária em seu tempo, recebendo elogios de figuras como Anatol Rosenfeld e Leo Gilson Ribeiro, que a classificou como ?a mais perfeita escritora viva em língua portuguesa?, alguém que escrevia "... há vários anos a mais abissal e deslumbrante prosa poética do Brasil posterior à genialidade de Guimarães Rosa". Mesmo sendo reconhecida pela crítica literária de sua época, tendo recebido inúmeros prêmios enquanto viva, Hilda encontrou muita resistência para distribuição da sua obra, sendo recusada por várias editoras.
Sua produção, embora divulgada sempre de forma prematura, com pouco espaço de tempo entre a escrita e a publicação, ficou em posse de pequenas editoras, de baixa circulação, o que fazia com que seus livros circulassem apenas no eixo Rio/São Paulo. Portanto, os escritos de Hilda Hilst se mantiveram longe do grande público durante muitos anos, e só vieram alcançar maior circulação após a editora Globo/Biblioteca Azul vir a publicá-los no início dos anos 2000, próxima à morte da autora.
Em face disso, a escritora só se alçou à popularidade há relativamente pouco tempo. A prosa ficcional de Hilda Hilst sempre esteve em constante discussão, mesmo que por um seleto grupo de pessoas, mantendo, assim, o status de literatura cult e acadêmica que a própria Hilst declarava-se contra, ao chamar seu público de ?[...] uma seita, é como uma KGB, a polícia política da União Soviética?.
O livro Fluxo-floema é um dos exemplos perfeitos da complexidade narrativa da H.H., trazendo técnicas como fluxo de consciência, narração frenética vista através de um olhar esquizofrênico, descrições oníricas da vida pós morte etc.
São 5 novelas/contos/começos de romances, que tem uma força primordial, são feitos de sangue, terra e alma.
Hilda Hilst é uma das melhores e maiores autoras da Língua Portuguesa.