Atrás das Linhas Inimigas de Meu Amor

Atrás das Linhas Inimigas de Meu Amor Leonard Cohen




Resenhas - Atrás das linhas inimigas de meu amor


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Marino 08/02/2010

O poeta dos amores e da escuridão

Sem respostas para as dúvidas que o sufocam, o poeta se salva ao dar vazão às palavras, como um grito ou sangramento que não se pode estancar. Quando as palavras certas se encontram, criando imagens que dão cor e alma à sua leitura do mundo, nasce o poema. No caso do canadense Leonard Cohen, a poesia é um mergulho desesperado e corajoso na escuridão interior, onde se escondem os horrores da História, os desejos e fracassos individuais, as dores das perdas irreparáveis. Os versos de Cohen emocionam pelo que têm de intimista e autobiográfico e, ao mesmo tempo, universal.

O poeta nasceu em Montreal em 1934, de tradicional família judaica, que preferia vê-lo desenvolver o talento para os negócios. Mas sua arte sempre foi a poesia. Aos 32 anos, insatisfeito com a pouca vendagem dos quatro livros que publicara, decidiu dedicar-se à música, tornando-se um compositor cultuado em todo o mundo, ainda que pouco conhecido no Brasil, e levando seus versos a um público de mesma dimensão.

Hoje, Leonard Cohen tem 17 CDs gravados, entre originais e coletâneas, e 11 livros, dos quais seis de poesia, todos contemplados na antologia “Atrás das linhas inimigas de meu amor”, que a Editora 7 Letras, do Rio de Janeiro, acaba de lançar, com tradução de Fernando Koproski. É um belo presente para os leitores brasileiros, especialmente os que já cultuam o Leonard Cohen cantor e compositor. Se seus discos, embora raros, sempre são lançados no Brasil, os livros nunca haviam aportado por aqui.

Para os neófitos, é preciso lembrar que Cohen é, acima de tudo, um poeta. Mais que isso, é o poeta dos amores, das paixões, do desejo e suas impossibilidades. “Libertino encantador”, como o definiu o escritor Nelson de Oliveira na orelha do livro, Cohen é também o poeta do amor físico. “Entendo aquelas garotas romanas / dançando ao redor de uma coluna de pedra / beijando-a até a pedra ficar cálida. / Ajoelhe-se, amor, mil pés abaixo de mim, / tão longe que mal perceba tua boca e mãos / efetuando a cerimônia”, escreveu em “Celebração”.

É, também, o poeta da inútil busca da felicidade, do inconformismo, da melancolia, da insatisfação com o mundo – e tudo aquilo que ele oferece e nega. “O que posso te dizer de migrações / se nesse céu esvaziado / nítidos fantasmas de pássaros do verão passado / ainda deixam sinais; / ou dos vôos desesperados / se o mais leve esvoaçar de uma asa colorida / leva todas as nossas ruas preferidas / a suspirar pela primavera sonhada” (“Os pardais”).

A poesia de Leonard Cohen aborda também suas raízes histórico-religiosas e a procura por uma verdade pessoal nesse campo. Se na juventude foi um estudioso do Judaísmo, na maturidade ele ensaiou um rompimento, o que não o livrou da sombra do holocausto, que persegue todos os judeus e é tema recorrente em seus poemas. Em seu caminho, Cohen foi até o Zen Budismo, vivendo cinco anos como monge no Mosteiro de Mounty Baldy, nos arredores de Los Angeles.

“Atrás das linhas inimigas de meu amor” reúne 50 poemas, selecionados pelo tradutor Fernando Koproski. Destacam-se “Suzanne” e “Dance-me até o fim do amor”, sucessos na sua carreira de músico. Sente-se falta, assim, do poema veiculado em sua mais emblemática canção, “Bird on the wire”. É o mais perfeito auto-retrato do poeta: “Como um pássaro no fio, como um bêbado numa cantoria noturna, eu vou buscando o meu jeito de ser livre”, diz a primeira estrofe.

Outra falha é não constar, em cada poema, o título do livro em que foi originalmente publicado. Isso permitiria ao leitor contextualizar melhor sua poesia, feita de vários livros – do amor, do tempo, do horror, da beleza, do desejo, de perdas e permanências, do sagrado e do profano, como define o próprio Koproski na apresentação.

Como o objeto desta reflexão é a poesia de Leonard Cohen, e não sua tradução, evita-se aprofundar nesse tema, até mesmo porque toda tradução é questionável. Os versos livres de Cohen facilitam a tarefa, mas muitas das belas imagens originais se perdem em versões infelizes. Exemplo: o verso “Show me slowly what I only / know the limits of” (literalmente “mostre-me devagar aquilo de que só conheço os limites”) foi traduzido por “Leve-me onde mora com demora / o que eu só sei a se pôr” (“Dance-me até o fim do amor”).

É necessário lamentar que o primeiro volume de poemas de Leonard Cohen publicado no Brasil venha com tradução sofrível. Ele merecia um tradutor à sua altura.

O trabalho de Koproski, independente de erros ou acertos, é o trabalho de um fã, o que se evidencia no poema, inserido no texto de apresentação, com que homenageia o ídolo. Seu maior mérito foi a dedicação com que mergulhou na obra escrita do bardo canadense para dividi-la com uma suposta platéia. Se o leitor tiver bons conhecimentos de inglês, o proveito será maior, pois a edição é bilíngüe. Leia o original, imaginando ouvi-los na voz grave e sepulcral do poeta. Assim como a música de Cohen, sua poesia é uma experiência singular.
Peleteiro 07/01/2015minha estante
Acho Koproski um grande poeta, e acho que a tradução dos livros do Bukowski foram perfeitas, mas achei confusa a tradução do Leonard, entendo pouco de inglês, e as vezes fica melhor ler o inglês mesmo... Acho que os termos para enriquecer não foram muito bem encaixados. Mas não tiro o grande mérito da seleção dos poemas...
Excelente crítica a sua!




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