jaircozta
07/08/2018vertigem e sorte#livro Lorde
#autor João Gilberto Noll
Lorde narra a história de um escritor de cinqüenta anos, com seus sete livros publicados, que sai do Brasil a convite de uma instituição inglesa para participar de eventos e viver em Londres com uma bolsa concedida a escritores estrangeiros. Bem próximo do que o próprio Noll viveu e, segundo ele mesmo, inspirou em tempo real a criação deste romance tão emblemático.
A narrativa é repleta de mistérios que o próprio personagem levanta: qual o interesse em convidá-lo para essa estadia? Quem mais está envolvido em quê? Quem é o morador do albergue que parece emergir sonhos eróticos tão vívidos? São sonhos? Onde somos bem-vindos?, por exemplo. Pouco se sabe sobre os personagens que cruzam o caminho do eu lírico em questão e aos pedaços, como se montássemos um quebra-cabeças, é que vamos entender como opera a percepção do escritor-personagem nessa história . São essas perguntas que vão nos contar a história deste homem e o entendimento do fluxo narrativo está condicionado a essas questões levantadas por ele.
Nesta obra, o sexo está o tempo inteiro como protagonista e nos brinda com sua beleza crua e sobretudo humana, quando se trata de um homem (ao que se crê) homossexual de meia idade. Existe uma beleza e uma honestidade tão grande em tudo o que o João Gilberto Noll escreve que eu mesmo não consigo me conter e escrever pouco sobre qualquer livro dele. Esse romance é surpreendente e desafiador - por isso mesmo, lindo.
Trecho em destaque: "Como se de repente numa floresta encantada, às vésperas da primavera, eu fosse ter o meu lugar. Tirei o sobretudo novo. Dobrei-o várias vezes. Deitei sobre a grama seca com a cabeça sobre ele. Eu precisava adormecer. Ver se sonharia o sonho do outro de quem jurava ter ainda sobras do sêmen na mão. Seria a prova irrefutável do que eu aprenderia a aceitar... E adormeci..."
Noll tem uma escrita poderosa. Esse livro é meio misterioso do começo ao fim. A narrativa se desenvolve de forma muito sutil e psicológica, com a personagem principal, um escritor de meia idade, que nos leva por uma experiência interior muito original e impactante. É como caminhar na corda bamba e gostar do risco que se corre quando a mesma corda balança.