ricardo_22 06/01/2016
Resenha para o blog Over Shock
A Invasão, Dias Gomes, 7ª edição, Rio de Janeiro-RJ: Bertrand Brasil, 2015, 154 páginas.
Após uma enchente que destruiu seus barracos em uma favela, várias famílias são obrigadas a encontrar um novo lugar para morar e acabam invadindo o esqueleto de um prédio abandonado, onde querem recomeçar suas vidas, mesmo sabendo que a qualquer momento podem ser despejadas. Mas as promessas de políticos e a exploração de pessoas que visam seus próprios interesses pode colocar em xeque o recomeço ou mesmo moldar as atitudes de todos que estão em busca de melhores condições de vida.
“(...) Fizeram muito bem, invadindo esta construção, resolvendo por suas próprias mãos um problema que os homens públicos não querem resolver. Fizeram muito bem e aqui estou, não só para lhes dar o meu apoio, como também para assumir um compromisso solene. (Faz uma pausa de efeito). Se reeleito nas próximas eleições, comprometo-me a apresentar um projeto desapropriando este prédio e entregando-o aos seus heroicos conquistadores!” (pág. 83).
A Invasão não é uma peça teatral qualquer, porém não significa que seja de brilhantismo semelhante ao de outros trabalhos de Dias Gomes. E se é possível fazer uma comparação com O Santo Inquérito, por exemplo, só me vem na cabeça que em ambos os trabalhos o autor usa o poder da arte para falar sobre os mais necessitados, em épocas completamente distintas. Nada além disso.
E vale destacar que essa pode ser considerada uma obra atemporal, afinal, infelizmente, as décadas se passaram, mas muitas famílias ainda enfrentam situações semelhantes às de A Invasão. E não falo apenas de desastres naturais que destroem casas e deixam famílias inteiras desalojadas quase que diariamente Brasil a fora. O problema é muito mais complexo e talvez por isso a peça causou certa polêmica na época de seu lançamento — a peça chegou a ser proibida pelo AI-5 durante Ditadura Militar.
Isso porque a população carente sempre esteve nas mãos dos políticos e de suas promessas esfarrapadas que visam interesses que não são para o benefício do povo. Neste caso, enquanto as famílias retratadas tentam recomeçar a vida no esqueleto de um prédio abandonado, precisam torcer para que não sejam despejados, o que não os impede de sonhar. O problema é que são pessoas vulneráveis, ou seja, elas caem facilmente na lábia de terceiros — mais um detalhe que continua existindo até os dias de hoje.
Mas, diferente das duas peças lidas anteriormente, nem mesmo a importância de retratar este tema fez com que me envolvesse com a história. Como em outras situações, o grande número de personagens pode ter influenciado a falta de envolvimento e identificação com um ou outro, mas também em nenhum momento consegui visualizar a peça em si. Por ser uma proposta diferente, em que muitas coisas acontecem simultaneamente e da qual não estou acostumado, não encontrei nada que me atraísse; apenas me senti confuso do princípio ao fim.
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