Tatá 19/06/2022
Héracles me ensinou sobre vulnerabilidade. Quando, taciturno por descobrir que em um acesso de loucura (a mando de Hera), mata seus filhos e sua companheira Mégara, ele pensa em se suicidar. Teseu, seu amigo, o acolhe, mostrando um gesto de solidariedade e amizade.
Héracles era incrivelmente forte. Incrivelmente corajoso. Incrivelmente sensível, justo, adorado por muitas pessoas. Mas nada disso, nem os seus doze trabalhos, foram o suficiente após ele perder quem mais amava. Num momento de vulnerabilidade, o ato mais corajoso era sobreviver após uma dor intensa de ter matado sua própria família. Suas armas, que eram até então símbolo de sua coragem, viram também símbolo de sua fragilidade e de seu passado, algo tão inerente ao humano, tão tangível: o de continuar caminhando mesmo diante das dores que a vida nos traz. E que a caminhada não dá pra ser solitária. Às vezes, precisamos do ombro de um Teseu para nos ajudar a levantar. Nem Héracles foi forte o tempo todo.
Entre o divino e o humano, eis aqui um dos meus personagens mais queridos da mitologia grega.
(Nesta peça de Eurípides, os doze trabalhos acontecem antes de Héracles matar sua família, o que, em outras versões do mito, trata-se do oposto: para pagar pelo que fez com sua família, que Héracles faz os doze trabalhos. A tradição tb espera o suicídio de Héracles no processo que o faz virar deus, mas Eurípides muda sua trajetória e o humaniza de uma forma brilhante.)